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Nazaré

Recuo na reabilitação de museu gera polémica entre Cultura do Centro e Câmara da Nazaré

Verba para a reabilitação do Museu Dr. Joaquim Manso, com o edifício em avançado estado de degradação, passou para metade do valor indicado inicialmente. Restante terá quer ser suportado pela autarquia.

A Câmara da Nazaré considerou inaceitável que a Direção Regional de Cultura do Centro pretenda desistir da reabilitação do Museu Dr. Joaquim Manso, alegando que o investimento protocolado pela anterior direção seria “desproporcionado” e “inoportuno”.

“Não podemos aceitar que se ‘rasgue’ um protocolo e que se desista de reabilitar o Museu Dr. Joaquim Manso”, disse à agência Lusa o presidente da Câmara da Nazaré, Walter Chicharro, após a Direção Regional de Cultura do Centro (DRCC) ter manifestado intenção de não avançar com as obras previstas.

Em causa está um protocolo assinado em junho de 2018, visando a reabilitação do edifício em avançado estado de degradação, em que a DRCC, então presidida por Celeste Amaro, se comprometia a efetuar obras orçadas em 200 mil euros e a autarquia a suportar os restantes custos e disponibilizar espaços temporários para a exposição do espólio.

O acordo previa que o investimento da DRCC fosse repartido pelos anos de 2018 e 2019 e, na assinatura do protocolo, o ministro da Cultura de então, Luís Castro Mendes, manifestou o empenho do Governo em incluir no futuro Plano Nacional de Investimentos (2020/30) a construção de um novo museu, juntando ao atual edifício um projeto do arquiteto Siza Vieira.

A Câmara da Nazaré foi, porém, segundo o autarca, “agora surpreendida por uma atitude completamente diferente” por parte do organismo agora liderado por Suzana Menezes.

Num ofício enviado à autarquia, a diretora regional defende que, face à perspetiva do novo projeto, da autoria de Siza Vieira, “que implicará a demolição do miolo do edifício do Museu, o investimento na reabilitação do mesmo afigura-se desproporcionado e inoportuno”, propondo a revogação do protocolo assinado pela antecessora.

Susana Menezes afirma ainda que os espaços disponibilizados pelo município para expor a coleção cediça por Joaquim Mando “não reúne as condições necessárias para uma fruição satisfatória da exposição” e propõe um novo protocolo em que, ao invés da reabilitação do museu, a verba seria usada na melhoria do núcleo temporário de exposição, localizado no Centro Cultural da Nazaré.

No documento, a que a agência Lusa teve acesso, a verba a disponibilizar pela DRCC desce de 200 mil para 100 mil euros, e determina que a autarquia se disponibilize por outros 100 mil euros, para remodelar o referido espaço.

Uma proposta que a câmara “recusou aceitar”, depois de a autarquia ter “realojado duas associações e investido entre 100 mil a 150 mil euros num espaço para acolher o espólio”, por um lado e, por outro, por se tratar de “um espaço histórico, com degraus onde as antigas peixeiras leiloavam o peixe e que se pretende manter como marco histórico”, explicou Walter Chicharro.

Mais grave, segundo o presidente, foi a câmara ter sido informada “pela diretora regional de que os 200 mil euros protocolados com a DRCC nunca foram inscritos em orçamento” e que, por isso, “já só existe disponível a fatia [100 mil euros] respeitante a 2019”.

O recuo na intenção de reabilitar o edifício levou a Assembleia Municipal a aprovar uma moção, proposta pelo PS, que lidera a autarquia, exigindo que o protocolo original seja cumprido, e a pedir a intervenção do Ministério da Cultura no diferendo com a CRCC.

A agência Lusa tentou, sem sucesso, obter esclarecimentos da CRCC.

O Museu Dr. Joaquim Manso abriu ao público em 1976, na antiga casa de férias do escritor e jornalista fundador do Diário de Lisboa, doada ao Estado em 1968 para esse fim, pelo benemérito nazareno Amadeu Gaudêncio.

Localizado no Sítio da Nazaré, junto ao Promontório, o museu representa a identidade histórico-cultural da região da Nazaré, com incidência na cultura do mar.

Em outubro de 2016, o espaço, que funcionava de terça a domingo, passou a encerrar ao público durante os fins de semana, por “inadequabilidade física do edifício para receber maiores fluxos de visitantes”, justificou na altura a DRCC, que tutela o Museu.

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