Como avalia as conclusões a que chegou a Comissão Independente?
As conclusões da investigação da Comissão Independente não são, infelizmente, surpreendentes. O relatório dá-nos conta de 512 testemunhos de abuso entre a década de 1950 e a atualidade — e os dados desses testemunhos permitem reconstituir uma rede de, pelo menos, 4.815 vítimas nesse período. São números terríveis, que nos ajudam a compreender a dimensão de um fenómeno escondido durante décadas pela culpa e pela vergonha das vítimas. Mas são números que também nos incentivam a todos, crentes e não crentes, a ser mais exigentes com a Igreja. A instituição falhou profundamente, e a dobrar, na missão de proteger os mais frágeis: primeiro ao permitir que os abusos ocorressem e depois ao passar décadas em silêncio sobre o assunto, silenciando as vítimas para proteger os abusadores e a sua reputação. As conclusões da Comissão, por mais doloroso que seja conhecê-las, são vitais para um caminho de futuro, que implica reconhecer o passado, pedir perdão pelos erros, fazer justiça às vítimas e trabalhar no sentido da prevenção.
João Francisco Gomes: “A lista dos abusadores em funções será o derradeiro teste da vontade da Igreja de erradicar o problema”
Na sequência da apresentação do relatório final da Comissão Independente, falámos com o jornalista autor do livro “Roma, Temos Um Problema”, obra que aborda a crise dos abusos sexuais na Igreja Católica.