O futuro de muitas associações culturais do concelho de Leiria pode estar em risco. Numa das últimas decisões de 2010, a Câmara Municipal cessou todos os protocolos que existiam com ranchos, coros, filarmónicas e grupos de música tradicional. Porque não consegue pagar os apoios relativos ao ano passado e pretende renegociar novos contratos, mais baixos.
“O apoio de 2009 foi pago no fim de 2010. Dificilmente a Câmara de Leiria conseguirá dotação financeira para suportar o encargo de 2010”, reconhece o vereador da Cultura, Gonçalo Lopes.
Nas próximas semanas, a autarquia reúne-se com as associações para explicar que não consegue pagar os 180 mil euros que lhes deve. “A redução no apoio ao associativismo tem acontecido em várias áreas e a cultura também terá de passar por isso”, refere.
Em causa está o incentivo à actividade de 50 associações: 24 ranchos folclóricos, 11 filarmónicas, 11 grupos corais e quatro grupos de música tradicional. A deliberação foi votada por unanimidade em reunião de Câmara de Leiria.
A proposta da autarquia para 2011 contempla “a redução no apoio”, a negociar. Em compensação, oferece “o compromisso de que seja pago no próprio ano civil”.
Gonçalo Lopes espera “uma reacção de desconforto” por parte dos representantes das associações. “Já têm limitações financeiras próprias. A Câmara reconhece a mais-valia deste movimento para o concelho, mas não podemos estar a prometer para depois não pagar”.
A decisão foi recebida com preocupação entre as associações culturais visadas pelo corte.
António Cardoso, que canta no Coral do Ateneu de Leiria e toca no Leiricanta, assume que sem ajudas, o movimento associativo vai sofrer.
“Vamos ter muitas dificuldades em sobreviver”, reconhece.
Entre os 24 ranchos do concelho também há pessimismo. O presidente da associação folclórica admite que a sobrevivência de alguns grupos “pode estar em causa”, bem como o desfile etnográfico de Leiria. “Vai ser um ano difícil e alguns grupos terão de recusar actuações”, prevê Rodrigo Martins.
Quem já tem novo contrato-programa com a autarquia é o Orfeão de Leiria. “É uma escola de música que envolve muitos alunos e era necessária uma decisão mais imediata”, explica o vereador da Cultura. A renegociação baixou o apoio de 3.600 para 3.000 euros por mês.
“A redução não é muito significativa e corresponde à proporção com que a crise afectou todo o país. Temos de nos limitar a aceitar”, afirma, resignado, o presidente do Orfeão de Leiria, Henrique Pinto.
Manuel Leiria
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt
Anonimo disse:
O orfeão não é uma escola privada?? Os alunos pagam para lá andar…
mais valia ajudarem os ranchos que fazem parte da tradição portuguesa e as filarmónicas que são iniciativas bem mais pequenas que dependem da boa vontade das pessoas. Realmente a cultura é secundária em Portugal