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Gira aos 40: Pena de pavão

Eu sei que pena é uma palavra terrível, mas descreve na perfeição o sentimento que eu tenho em relação a certos pavões com que me vou cruzando por aí.

Sofia Francisco, professora giraaosquarenta@gmail.com

Eu sei que pena é uma palavra terrível, mas descreve na perfeição o sentimento que eu tenho em relação a certos pavões com que me vou cruzando por aí.

Pedindo desde já desculpa aos pobres animais, os pavões humanos são aqueles seres que mal iniciam conversa, fazem questão de dizer que são doutores ou engenheiros, que têm muitas obras de arte em casa, que são intelectuais e que não veem televisão (só o canal História, e às vezes). Normalmente, têm um sotaque afetado, gostam de anéis de curso ou com brasões de família e são peritos na arte de dissimular.

Os pavões alteram as profissões dos pais, mudam nomes de família, enver­gonham-se do lugar onde nasceram e das suas raízes e criam uma imagem de si que, a maioria das vezes, só existe mesmo nas suas cabeças. Não os compreendo e reitero… tenho mesmo pena desses seres.

Eu sou uma mulher normal, já aqui o escrevi, se calhar também tenho a mania que sei mais do que sei, mas há algo de que tenho a certeza (quase a certeza, vá): os pavões nunca conseguirão amar alguém de verdade. E sabem porquê? Porque não gostam deles próprios, de quem eles na verdade são e se recusam a aceitar.

E eu acabo por ter pena desses indivíduos. É que tão bom como ser amado é amar outra pessoa e isso, dificilmente, os pavões conseguirão fazer. E dá pena. Muita pena.

(texto publicado a 20 de junho de 2013)