– Se fores um historiador americano e quiseres ir visitar ruínas romanas à Líbia, provavelmente não consegues Visto e ficas ao lado na Tunísia. Acho que países por nós encarados como exóticos, não metem entraves à entrada de portugueses, somos pacíficos e não constituímos ameaça. Mas se algo correr mal, à partida estamos lixados, mas podemos sempre recorrer à diplomacia francesa para nos irem lá buscar!
Na rua ele era um sabichão, mas em casa, era uma pessoa como todas as outras. Guardava os talões das garantias em cima do frigorifico, com o espremedor de sumos a fazer de pisa papéis.O desprendimento das pessoas irritava-o solenemente, como o deixar a porta do prédio bater com força, ou deixar as luzes ligadas quando não se está a usar essa divisão da casa.
Gatos? Nem pensar! Era alérgico a essa máquina de fazer ron ron e gostava de os ver à solta, na rua, como nas zonas balneares durante a época baixa, onde por haver pouca gente, os animais domésticos locais podem andar livremente. Mas caso tivesse algum contacto com eles, inchava como os balões.
Não era materialista e gostava do carro em segunda mão que conduzia, independentemente do modelo. Para ele o importante eram as histórias e as lembranças que aconteciam dentro do automóvel.
Quando foi viver sozinho, certas recordações mais eróticas transferiram-se para o sofá da sala e adoptou um companheirismo perante o veículo, como se de um animal doméstico se tratasse. Iam passear sozinhos, passar férias, e o facto de lá dormir dentro pelos menos uma noite, tornava-os íntimos a partir daí. No entanto não deixava de achar ao mesmo tempo que isso era um exercício solitário a tender para o ridículo, como um qualquer escritor sem piada, que rabisca comédia de gosto duvidoso, mas como é ele quem escreve, mete as suas personagens a rir do narrador a bandeiras despregadas e se auto – intitula Croissant Terrible.
texto/vídeo: Pedro Miguel
locução: Telmo Coelho
música: Quarto de Hóspedes