“Se tivesse sido de noite tínhamos morrido todos”. O desabafo é de uma jovem da região de Leiria que se encontra na Madeira, onde o temporal que assolou o arquipélago já causou quatro dezenas de mortes, segundo o balanço mais recente das autoridades.
A jovem encontrava-se de férias em Eiras, Santa Cruz, povoação que fica a cerca de 10 minutos do Funchal, onde várias famílias foram obrigadas a abandonar as suas habitações por volta das 10:00 de sábado, sob forte chuvada, e refugiar-se em casa de outras pessoas em zonas que não foram afectadas para fugir à enxurrada resultante do rebentamento de uma ribeira, “que levou tudo à frente”.
A casa de familiares onde se encontrava a jovem leiriense situa-se na rua por onde passou uma enxurrada, que encheu as casas de água e lama e submergiu os automóveis que estavam estacionados na via.
Esta rua de Eiras, em declive, com moradias geminadas novas, transformou-se no leito da ribeira que corria a montante e que, devido às fortes chuvadas, transbordou, levando na corrente muita lama, troncos de árvore e lixo.
Os pisos térreos das moradias da parte mais baixa da rua ficaram completamente inundados e as pessoas tiveram de fugir pelas varandas do primeiro andar, passando assim de umas casas para as outras.
Como os bombeiros não puderam responder à chamada, porque a estrada de acesso à povoação ficou cortada, os vizinhos tiveram de ajudar nesta operação os que tinham mais dificuldade, pois entre os desalojados estão famílias com idosos, crianças e até bebés.
“Neste momento as pessoas que tiveram de abandonar as suas casas estão em casa de vizinhos, noutros pontos do lugar que não foram afectados pela enxurrada, que lhes emprestaram roupa e estão a alimentá-las”, disse.
“O que valeu foi que se gerou uma onda de solidariedade entre vizinhos, uns vão fazer comida para trazer para os outros e emprestaram roupa para que possamos tirar a roupa molhada do corpo”, afirmou a jovem, lembrando que no rés do chão da sua casa ficou tudo destruído, desde móveis a louças, até ao computador e ao telemóvel.
A força da enxurrada era da tal ordem que rebentou alguns muros, ninguém se feriu mas as pessoas lamentam os danos nas moradias e os automóveis que ficaram cobertos de água e lama.
Refira-se que até ao momento há o registo de 40 mortos nesta tragédia, 120 feridos e 240 desalojados, números que, segundo as autoridades, poderão aumentar dadas as circunstâncias em que aconteceu o “dilúvio”.
O número de desaparecidos neste momento não é fiável, porque há pessoas que são dadas como desaparecidas, por estarem incontactáveis, dadas as dificuldades de comunicação.
Neste momento, as zonas mais problemáticas são os sítios da Furna, Pomar da Serra, Espigão, São João, Curral das Freiras, Madalena e Paul do Mar, Jardim da Serra, que por estarem isolados.
O serviço regional de Protecção Civil e Bombeiros e equipas de empresas de construção civil estão no terreno a remover os entulhos, para permitir que chegue aos locais o apoio necessário.
João Paulo Silva, com Lusa
Manuel disse:
Gostei de ler a notícia. No entanto, a jovem da região de Leiria não tem nome? Nem uma identificação simulada? Não quer ser identificada?
Já regressou à região de Leiria?! Ainda por lá continua, em férias?
Vamos lá, senhores jornalistas, desenvolver o trabalho. "Puxar pela história".