O Tribunal de Pombal iniciou o julgamento de um imigrante acusado pelo Ministério Público (MP) de ter matado em Dezembro do ano passado outro imigrante, tendo o arguido afirmado durante a sessão que agiu em autodefesa.
Obid Tukhtanov, de 42 anos, está a responder pelos crimes de homicídio qualificado, ofensa à integridade física qualificada – pelos ferimentos causados a outro cidadão estrangeiro – e detenção de arma proibida.
Segundo o despacho de acusação, o arguido, lenhador, que residia em Vila Viçosa, deslocou-se a 04 de dezembro de 2009 à freguesia do Louriçal com vista à angariação de mão de obra de Leste para prestar trabalho na zona do Alentejo.
O MP sustentou que durante o dia o arguido e outros imigrantes ingeriram bebidas alcoólicas em casa de Viorel Gonta e num café das imediações, no Louriçal, situação que se repetiu ao jantar e depois deste.
Pelas 01:55 do dia seguinte, “o arguido iniciou uma discussão” com Viorel Gonta “por questões relacionadas com trabalho”, tendo um outro morador, de nome Roman, procurado “acalmá-lo em vão”.
Em resposta, o arguido levantou-se e “procurou apertar-lhe o pescoço”, tendo de seguida agarrado “uma faca de cozinha” com a qual atingiu Roman na face e no pulso.
Depois, “o arguido virou-se ao Viorel e atingiu-o com a mesma arma no pescoço, face e tronco”, ferimentos que provocaram a sua morte já numa unidade hospitalar.
Na sessão, o suspeito afirmou que “nem tudo é verdade” no despacho de acusação, garantindo que agiu em “autodefesa” na sequência de uma “briga” que não iniciou.
Obid Tukhtanov, que assumiu estar bêbedo mas lembrar-se no “geral” do que aconteceu à exceção de pormenores, explicou que a discussão que desencadeou o homicídio foi entre Roman e Viorel porque “não estavam satisfeitos” com o trabalho.
O arguido esclareceu que levou um “murro” de Roman que o fez cair e ao levantar-se foi “atacado a segunda vez pelo Gonta”, momento em que procurou um objeto em cima da mesa para se “defender”.
O imigrante garantiu que só se apercebeu de que era uma faca após ferir Viorel Gonta, sustentando que “na luta não há tempo para pensar”.
Já sobre a arma “capaz de provocar descargas elétricas” localizada na viatura, o arguido justificou que era “só para assustar” e que “não provoca nenhum efeito na pessoa”.
“Eu tinha trabalho, mulher, dois filhos, tinha família. Não me passou pela cabeça querer matar, não sou doido”, declarou, assegurando ainda ao coletivo de juízes estar consciente de que não podia ter problemas porque tinha pendente um processo judicial.
Durante a manhã foi ouvida ainda a testemunha Roman que desmentiu a versão do arguido.
A leitura do acórdão está marcada para 20 de Setembro.