A imagem de Óbidos como uma vila medieval pode ser “enganadora”, afirmou hoje a historiadora Manuela Santos Silva, defendendo a realização de escavações arqueológicas para provar que parte do povoado amuralhado é posterior à época medieval.
“Falta um estudo sistemático de escavações arqueológicas em Óbidos, porque só verdadeiramente as datações é que podem comprovar ou não aquilo que nós, através dos dados escritos, pensamos provável”, explicou à Lusa a historiadora, que defende que “a imagem desta vila como medieval pode ser enganadora”.
A investigadora da Faculdade de Letras de Lisboa defendeu hoje no II Simpósio Internacional Sobre Castelos que a vila de Óbidos teve um primeiro embrião, fora das muralhas, e que “só depois da reconquista de Lisboa, em 1147”, é que se conhece “o desenvolvimento urbanístico da vila de Óbidos”.
Com base na documentação escrita que estudou, põe em causa que Óbidos seja “inteiramente uma vila medieval”, já que a própria muralha que rodeia a vila só foi concluída em 1386, no reinado de D. Fernando, e que, portanto, “haverá partes medievais e outras nem tanto”.
Mas sublinhou a necessidade de comprovar a descoberta com escavações arqueológicas que permitam datar com exatidão o crescimento de Óbidos.
O II Simpósio Internacional Sobre Castelos reúne, até sábado, mais de uma centena de especialistas em castelos na vila, onde estão a ser apresentados os mais recentes estudos sobre “Fortificações e Território na Península Ibérica e no Magreb”, entre os séculos VI e XVI.
O simpósio é o ponto alto das comemorações do centenário da classificação do Castelo de Óbidos como monumento nacional, em julho de 1910.
Um século depois, o autarca da vila, Telmo Faria, considera “francamente positiva” aquela classificação, sem a qual o desenvolvimento “poderia ter sido muito diferente”.
Óbidos “cresceu razoavelmente intacto e com uma dimensão em que continuamos a percecionar a vila, o seu castelo e uma paisagem natural muito rica, que não foi afetada”, o que “é uma das grandes mais-valias da forma como se pode olhar para o património e a necessidade de o preservar”, sublinhou.
Medieval ou não, a vila é “um excelente exemplo de preservação e de interpretação patrimonial diferenciada”, onde a preservação não impediu que a autarquia faça do castelo uma fonte de vida, com a construção de eventos dentro da muralha, criando emprego e mais riqueza para as pessoas”, rematou.