Com a chegada do frio e das primeiras chuvas, começa a apanha de cogumelos. Quem os colhe, afirma conhecê-los bem, mas todos os anos morrem, em Portugal, cerca de trinta pessoas.
Calcula-se que, no nosso país, existam perto de cinco mil espécies de cogumelos. Desses, três mil são semelhantes a espécies venenosas, mas apenas 10% o são verdadeiramente.
A probabilidade de os encontrar é grande. A espécie mais frequente é o amanita phaloïdes, conhecido como “chapéu da morte” e corresponde ao inimigo número 1 dos seres humanos.
Pode ser confundido com o tricholoma equestre, vulgarmente denominado de míscaro, e está na origem da maior parte das intoxicações mortais que ocorrem. “Em Portugal, os envenenamentos são cíclicos”, refere Jorge Estrela, especialista em micologia.
Não há truques ou segredos para a colheita, apenas conhecer cientificamente bem a espécie, revela.
“O amanita phaloïdes e o míscaro são muito diferentes, mas quem é descuidado, facilmente apanha um no lugar de outro”, explica o especialista.
As diferenças entre as duas espécies são visíveis a olho nu: os míscaros são compostos por um topo esverdeado, com lâminas de cor amarelo limão, não possuem volva e existem com maior abundância em pinhais.
Já o amanita phaloïdes tem chapéu convexo, lâminas de cor branca, tal como a volva, e um pé cilíndrico.
Predominam em azinhais e sobreirais. Vinte gramas deste cogumelo são suficientes para provocar a morte de um ser humano. No espaço de 24 horas, após a ingestão, provoca necrose no fígado, o que, na maioria dos casos, é mortal.
Mas não se pense que apenas esta espécie é fatal. “Se consumir míscaros, durante uma semana, a todas as refeições, também pode morrer. Comido em excesso, é mortal”, diz Jorge Estrela.
A dose letal deste alimento equivale ao consumo de muitos quilos. O mesmo se passa com as favas, o chícharo ou o feijão encarnado. “São verdadeiros laboratórios de química”, quando consumidos em excesso, explica.
E há regras a seguir? Sim. Deve conhecer bem a espécie que apanha. Em caso de dúvida, é preferível deixar o cogumelo no local e continuar a colheita mais à frente.
Cada cogumelo tem a sua utilidade ecológica e pode servir de alimento a outros animais ou mesmo a outros cogumelos. Não vale a pena destruí-los ou levar para escolher em casa.
O contacto e a mistura de espécies podem revelar-se um risco para a saúde. De igual forma, também não é aconselhável colher cogumelos em áreas industriais, bermas da estrada ou zonas contaminadas.
Outra das recomendações dos especialistas é reservar sempre uma amostra dos cogumelos frescos que vai cozinhar.
Em caso de intoxicação, pode ajudar os médicos a perceber qual a espécie tóxica que ingeriu, fazendo um diagnóstico e um tratamento adequado.
Não há truques
Colher de prata ou alho
Qualquer das escolhas é má. Não existe nenhum “truque d’avó” infalível para garantir que os cogumelos que recolheu são comestíveis e não venenosos. Esqueça a colher de prata dentro do tacho ou mesmo o dente de alho, pois qualquer alimento em decomposição vai oxidar estes elementos. A única forma de saber se são bons é conhecê-los muito bem.
Cesto de vime
A colheita deve ser depositada num cesto de vime, que permita o arejamento e a disseminação dos esporos libertos pelas espécies. O uso de latas, baldes ou sacos de plástico é totalmente desaconselhado.
Socorro
Se se aperceber de algo anormal, depois de ter ingerido cogumelos, deve dirigir-se imediatamente a uma unidade de saúde. Contacte a Linha de Saúde 24 (808 24 24 24) ou o Centro de Informação Anti-Venenos (217 950 143).
Acidentes
Em 2009, ocorreram três acidentes mortais na região. Rui Fernandes, residente nos Marrazes, não resistiu à intoxicação causada pelos cogumelos venenosos. Em S. Simão de Litém, Pombal, faleceram tia e sobrinha.
Marina Guerra
marina.guerra@regiaodeleiria.pt