Em grego, doula significa “aquela que serve”. Actualmente, nas sociedades ocidentais, doula é sinónimo de humanização do nascimento. São a mãe para a mãe. Mulheres que apoiam outras mulheres durante a gestação, parto e pós-parto, em casa e no hospital, partilhando ensinamentos e prolongando uma ideia com raízes na comunidade científica.
As primeiras doulas em Portugal, que eram as únicas até 2005, receberam formação do cirurgião francês Michael Odent, que desenvolveu os conceitos de parto na água e salas de parto em ambiente familiar. Estudos de outros dois médicos, John Kennel e Marshall Klaus, apontam benefícios no acompanhamento por uma doula: redução em 25% na duração do trabalho de parto, redução de 30% nos pedidos de alívio da dor, redução de 60% nos pedidos de anestesia epidural, redução de 40% no uso da oxitocina sintética, redução de 40% no uso de fórceps e, não menos importante, redução de 50% na realização de cesarianas.
Em que momento da nossa evolução enquanto espécie é que o parto se transformou num acto médico, industrializado, quase solitário? É na resposta a esta pergunta que vive o princípio da compreensão da necessidade de humanizar o nascimento. “Ao longo da história, as mulheres sempre tiveram ajuda de outras mulheres nestes rituais de passagem”, afirma Ana Raposeira, presidente da Associação Doulas de Portugal (ADP). Humanizar o nascimento, proporcionando experiências seguras, saudáveis e enriquecedoras, torna-se assim uma prioridade nesta corrente de pensamento. Ainda segundo as conclusões de Klaus e Kennel, o acompanhamento de proximidade, familiar e afectivo, fortalece o vínculo com o bebé e diminui a incidência de depressões pós-parto e problemas com amamentação.
Em Portugal, os serviços de uma doula custam 400 euros para um pacote mínimo que inclui três encontros durante a gravidez, o acompanhamento do nascimento e uma visita pós-parto. Este é o valor recomendado pela ADP. “Não fazemos qualquer acto médico, essencialmente damos apoio emocional, informativo e prático”, explica Ana Raposeira, que reside em Caldas da Rainha e efectua acompanhamento nos distritos de Leiria, Lisboa e Santarém.
De acordo com a co-fundadora da ADP, de 41 anos, mãe de duas adolescentes, “tem havido procura crescente de algo que seja novamente trazer o poder à mulher, ser ela a protagonista daquele momento” especial que é o momento de libertar uma vida. “O parto natural” ou “menos interventivo possível” é um objectivo “porque acreditamos na capacidade de parir” e porque “na maior parte das situações se deixarmos o parto correr ele acontece naturalmente”, afirma Ana Raposeira. No entanto, conclui, “o objectivo principal é não fazer julgamento das decisões que uma mulher informada toma”.
Cláudio Garcia
claudio.garcia@regiaodeleiria.pt
Saber Mais
Quem é
Uma figura maternal que está ao lado de outra mãe para a ouvir, proteger, apoiar e responder às suas necessidades, de acordo com a definição da Associação Doulas de Portugal. Por isso se diz que a doula é uma mãe para a mãe. Ajuda-a a sentir-se segura de modo a que ela consiga mais facilmente dar à luz.
O que faz
É um modo de estar e não um modo de fazer, nota a associação. Geralmente, a doula conhece a futura mãe durante a gravidez, ouve os pais acerca dos seus anseios, ajuda a esclarecer dúvidas, orienta na busca de informação. Durante o trabalho de parto, a doula está com a mãe, mantendo uma presença discreta e tranquilizadora. O apoio continua no pós-parto, através de algumas visitas à mãe.
O que não faz
Não executa qualquer acto médico nem faz aconselhamento.
Formação
Estuda temas como fisiologia do nascimento, primeiros socorros em obstetrícia, o uso da água durante o parto, ecografias, partos induzidos, a presença do pai durante o nascimento, vida fetal, nutrição durante a gravidez, consequências a longo prazo de como nascemos, informação benéfica ou prejudicial na gravidez, amamentação.
Onde começar
No site da Associação Doulas de Portugal, em www.doulasdeportugal.org, que inclui uma lista de contactos por região.
Quanto custa
400 euros pagam três encontros durante a gravidez, o acompanhamento do nascimento e uma visita pós-parto. Este é o valor recomendado pela ADP.
Cláudio Garcia
claudio.garcia@regiaodeleiria.pt
Maria de Deus Paula Repolho disse:
Estou na casa dos “60”, sou professora e mãe de 3 filhos que adoro. Desde há poucos anos, comecei a sentir desejos persistentes de ajudar nas difíceis tarefas de “ser mãe”. Tenho consciência que já não tenho idade nem disponibilidade ( por enquanto) de aprender, ( ao menos) como ajudar/ser uma mão amiga de quem está a passar pelo que eu passei, aquando dos nascimentos dos meus rebentos. As inseguranças estão por todo o lado e era, nesse sentido que eu adorava ser voluntária para quem precisa.