“Não se pode continuar a comprar mais do que se vende indefinidamente, a não ser que nos financiemos com empréstimos. Mas haverá um dia em que… e acho que todos percebemos que esse dia é agora”. A análise é do economista Luciano Amaral que esta noite participou na conferência “Economia: crescimento versus desenvolvimento”, promovida pela ADLEI – Associação de Desenvolvimento de Leiria e pela Livraria Arquivo.
O autor do livro “Economia portuguesa, as últimas décadas”, elencou diversos problemas da economia portuguesa, considerando que Portugal ainda não conseguiu ultrapassar por completo a crise económica de 1973-75. Trata-se de um período que conjugou um choque petrolífero, um incremento dos salários em cerca de 30 por cento e a entrada de 600 mil pessoas – regressadas das ex-colónias – que engrossaram a população activa.
Luciano Amaral defendeu ainda que a economia portuguesa conseguiu melhorar com a entrada na CEE, com o acesso a novos mercados, acompanhados de uma queda no preço de petróleo e a sistemática desvalorização da moeda, durante 13 anos até ao início da década de 90.
Contudo, explicou, a necessidade de levar a cabo a política monetária que nos permitiu adoptar o Euro, conjugada com a queda nas remessas dos emigrantes, retiraram competitividade à economia e inviabilizaram o seu crescimento. “Ainda crescemos entre meados dos anos 90 e o início do século, mas foi sobretudo com base na despesa pública”, sustentou. Portugal vem acumulando défices com o exterior, numa economia com problemas de produtividade, apontou ainda.
Para Luciano Amaral, os diversos cenários para sair da crise serão complexos, admitindo que a eventual saída do euro, a saída “fácil”, seria “dramática no curto prazo”. Desta forma, adianta, “teremos a desvalorização real, com os cortes salariais”.
A comentar a intervenção de Luciano Amaral, Amado da Silva, presidente da Autoridade Nacional de Comunicações (ANACOM), lamentou os cortes salariais “cegos” na função pública. E referindo-se às frequentes críticas à chanceler alemã Angela Merkel, considerou que a Alemanha não tem razões para protestar. Afinal, sustentou, durante anos desrespeitou um dos pilares da política monetária europeia, com níveis de dívida pública acima dos 60 por cento do PIB, ao contrário de Portugal que se manteve dentro dos limites até há poucos anos. “Agora que tem o problema resolvido, manda recados”, lamentou. Amado da Silva questionou ainda a razão de ser da política expansionista ensaiada em 2009 que precipitou o país para a actual situação.
Este ciclo de conferências, denominado “O País e a região, que futuro”, prossegue dia 11 de Maio com o sociólogo António Barreto e o empresário Henrique Neto e será subordinada ao tema “Pensar o País”.