Quando há meia dúzia de anos fechou a velhinha loja na Rua Direita, Manuel Pereira sabia que não se livraria tão cedo da insistência de amigos para comparecer – ele e a sua máquina – em casamentos e baptizados.
Porque houve gerações inteiras que se sentaram no estúdio do senhor Pereira à espera de verem o passarinho.
“Era uma referência para nós e talvez para várias gerações de leirienses”, considera António Cardoso, fundador do grupo de música popular Leiricanta, de cuja formação Manuel Pereira fazia parte.
De resto, até há um ano impressionava sempre o público, quando subia ao palco, ele e o seu reco-reco. Integrou também
o Grupo Coral do Ateneu Desportivo de Leiria. “Era um apaixonado pela música”, sublinha António Cardoso.
Há cerca de um ano a calçada foi-lhe traiçoeira, quando regressava a casa, depois do ensaio. E desde então não voltou a subir aos palcos, o que não quer dizer que tenha deixado de lado a música.
Afinal, ainda no domingo anterior à morte, a filha (única) encontrou-o num registo de boa disposição, na Casa de Repouso onde agora estava, nas Caldas da Rainha. Nessa tarde ainda tocou realejo, como noutros tempos.
Na quinta-feira, dia 13 de Outubro, o coração do fotógrafo disparou pela última vez. Tinha 94 anos.