Surge pela boca de Henrique Neto e é um dos vários exemplos de descontrolo da despesa pública relatados no último livro do jornalista Joaquim Vieira. Recorda aquele empresário da Marinha Grande: “O ministro da Juventude e do Desporto, José Lello, foi a Leiria perguntar quanto custaria o estádio para lá previsto. Falaram-lhe em quatro milhões de contos [20 milhões de euros]. ‘Quatro milhões?’, disse ele. ‘Tem de ser muito mais’. Era para ficar dinheiro para distribuir e mostrar obra que se visse”.
Este episódio gravado na memória de Henrique Neto consta do livro “Só Um Milagre nos Salva”, que Joaquim Vieira, natural de Leiria, deu recentemente à estampa e que apresentou no passado dia 21 de janeiro, na Fnac do LeiriaShopping.
Com este livro, o autor propôs-se “encontrar explicações para a crise, as razões do seu arrastamento e as (diminutas) probabilidades da sua resolução”.
Para isso, ouviu quinze especialistas e analistas, sobretudo da área da Economia, que têm vindo a pronunciar-se acerca da situação de crise económica e financeira.
Henrique Neto é uma das figuras ouvidas, mas o grupo é formado por outros 14 nomes entre eles Augusto Mateus, Miguel Beleza e Medina Carreira.
Durante a apresentação do livro em Leiria, Joaquim Vieira referiu que, quando começou a investigação, apercebeu-se que “portugueses não tinham noção de como o país estava” e das consequências que daí adviriam no curto e médio prazos.
Os depoimentos que colheu permitiram-lhe “reconstruir o puzzle” e perceber “como é que se deu esta cambalhota”, mas conduziram-no igualmente a uma “angustiante incerteza quanto à hipótese de encontrar um caminho de saída da crise”.
O título do livro reflete essa angústia, ainda que deixe no ar a ideia de que há um milagre económico que pode reconduzir o país a um patamar de desenvolvimento. No entanto, para Joaquim Vieira, as gerações jovens nunca conseguirão atingir o nível de bem-estar dos seus pais.
“O que vamos deixar aos nossos filhos é um mar de dívidas que vão ter imensa dificuldade em pagar”, aspeto que, mesmo do ponto de vista moral, “é questionável”, referiu.