À mesma hora que as lojas Pingo Doce em Leiria apresentavam filas da porta até à estrada, a sindicalista Ana Rita Carvalhais discursava no largo do Papa, durante as comemorações do 1º de Maio, criticando o Grupo Jerónimo Martins por querer transformar o feriado num dia como outro qualquer.
O conflito entre os sindicatos (para quem o 1º de Maio permanece inalienável) e as empresas de distribuição (que nos últimos anos começaram a operar no dia do trabalhador) atingiu o cúmulo na passada terça-feira.
O desconto de 50% em compras de 100 euros ou mais arrastou multidões até ao Pingo Doce, enquanto a União de Sindicatos de Leiria não mobilizava mais de trezentas pessoas no centro da cidade (na foto, o momento em que a manifestação passou junto à entrada do supermercado na avenida Heróis de Angola).
Em Leiria, os momentos mais complicados terão sido vividos nos Marinheiros. Há informações, que não foi possível confirmar junto da Jerónimo Martins, de que os clientes consumiram bens e provocaram prejuízos avaliados em dois mil euros.
Os comentários à promoção, anunciada no próprio dia, invadiram a internet. “Cheguei à porta do Pingo Doce da Gândara, onde já não havia carrinhos de compras disponíveis. Eram 9 da manhã”, escreveu uma cliente na rede Facebook, acrescentando: “A fila já rondava as 40 pessoas e eis que um bando de iluminados começou a entrar com carrinhos do Aldi”.
O retrato em Leiria, que envolveu polícia, era idêntico ao dos concelhos à volta e do restante país: prateleiras quase vazias, muita confusão e alguma tensão.
A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE) está a investigar se houve infrações da empresa, mas a Jerónimo Martins faz um balanço positivo desta ação comercial e promete repetir.
No largo do Papa, Ana Rita Carvalhais lembrava: “O flagelo do desemprego atinge hoje no distrito de Leiria uma dimensão de que não há memória”.
(notícia publicada na edição de 4 de maio de 2012)
Cláudio Garcia
claudio.garcia@regiaodeleiria.pt