Sofia Coutinho sabe o que é o stresse diário. O que é a vida frenética da atualidade. Mas escolheu a tranquilidade. E isso nota-se quando abre as portas da Quinta das Sementes d’ Estrela, em Leiria.
Quando o portão azul fica para trás, abrem-se as portas a um outro ritmo, mais contemplativo, bem menos extenuante. Já lá vamos.
Antes, arrumemos de vez a questão óbvia: as razões da escolha de Sofia. Afinal, licenciada em Gestão de Empresas, a jovem de Leiria tinha tudo para vencer: durante anos, a carreira profissional sorria-lhe com um cargo bem remunerado na Sonae e noutras empresas.
“O trabalho na sede da Sonae era exigente e comecei a praticar ioga e meditação aos 23 anos”, conta. O tempo que despendia na viagem de comboio entre Ovar, onde morava, e Matosinhos passou a ser de leitura.
“Houve um primeiro livro que me veio parar às mãos e permitiu-me perceber que há uma visão diferente do mundo que me faz sentir bem”, explica.
Foi uma caminhada, “que passou por abdicar de muitas coisas, até chegar aqui”, diz. E o aqui é a quinta, em Leiria, de regresso às raízes.
“Faz todo o sentido estar aqui e estou muito feliz”, revela. A quinta, importa sublinhar, é bem mais que uma quinta. É, afinal, o palco de múltiplas atividades que por lá se desenvolvem. São sementes. A mais visível é mesmo a horta biológica urbana.
Frações de terreno são disponibilizadas para quem as quer cultivar e não faltam interessados: enfermeiros, docentes e diversas outras proveniências profissionais deitam literalmente, as mãos à terra. Mas há mais. A habitação da quinta alberga agora o Centro de Desenvolvimento Pessoal que propõe entre outros, terapias de shiatsu, ioga do riso ou meditação.
Workshops, pão que brota do forno da cozinha comunitária, a horta pedagógica para os mais pequenos ou o ateliê das artes, ajudam a completar a extensa lista de atividades que por lá se desenvolvem.
Ao fundo da propriedade começam entretanto a avolumar-se materiais que se quer venham a permitir a construção de uma escola. Diferente, baseada na pedagogia Waldorf.
“É uma educação diferente ao encontro da natureza e com a integração, será mais tranquilo do que estar fechado entre quatro paredes”, explica Sofia Coutinho. Por aqui, os mais pequenos não têm televisão nem consolas. O imaginário, o contacto com a natureza são as apostas.
Assim, sublinha, “vão surgir seres humanos que acreditam que serão capazes de tudo”. E essa caminhada pode começar por aprender a trepar às árvores.
(Reportagem publicada na edição especial do REGIÃO DE LEIRIA intitulada “Ser Feliz”, dedicada à descoberta de notícias positivas e exemplos inspiradores. Leia todos os outros textos sobre a mesma temática no jornal de 24 de agosto de 2012)