O pai preferia que tivesse seguido música, mas Tuna Caranguejeiro escolheu o futebol. Foi campeão nacional e convocado para a seleção, jogou com grandes nomes do futebol nacional, orientou vários clubes do distrital em Leiria e depois passou para a bancada, como jornalista. “Chutos na bola com humor à camisola” é o resultado da ligação de 50 anos de Tuna Caranguejeiro ao futebol.
Depois de ter lançado o livro no início do mês no Estádio da Luz, em Lisboa, sábado, dia 27 é a vez de Leiria. Às 16 horas, no auditório do Estádio Dr. Magalhães Pessoa.
O Benfica foi o clube que o viu crescer e onde conviveu com Nené, Humberto Coelho, Manuel José e muitos outros. Natural de Torres Novas, foi lá que começou como guarda-redes, aos 13 anos, mas era “baixinho”. Passou para médio e, dois anos depois, apesar da derrota por 12-0, deu nas vistas num jogo contra o Benfica para a Taça Nacional de Principiantes. Valeu-lhe o bilhete até Lisboa, onde ganhou lugar na equipa como defesa central. Após a estreia de Humberto Coelho, descaiu para o lado direito. Representou o Benfica duas temporadas como júnior e foi campeão nacional.
Novamente em Torres Novas cumpre serviço militar e é bicampeão militar pela Região Territorial de Lisboa, com Bento, Camurça, Freitas, Camolas e Diamantino. Chega ao Peniche, em 1973/1974, onde encontra Jorge Jesus, atual treinador do Benfica, e Fernando Peres. Depois ingressa na União de Leiria, por três anos, e termina a carreira em 1978 no Torres Novas, enquanto treinava o Leiria e Marrazes.
Tuna sempre teve o gosto pela escrita. Durante anos, enviou semanalmente pequenos textos para o Diário Popular e o Record. “O livro tem algumas dessas anedotas, algumas com 40 e tal anos”, explica.
Como treinador, orientou Vieirense, Portomosense, Soutocico, ARCUDA, as camadas jovens da União de Leiria e seleções distritais. Foi ainda treinador da equipa principal da União de Leiria por um dia. “Era adjunto do Eurico Gomes, perdemos a subida de divisão, com a Académica, e mandaram-no embora. Fiquei a orientar a equipa na última jornada, ganhámos ao Guarda 3-0”, lembra.
A obra
Arrumadas as botas e a braçadeira de treinador, Tuna Caranguejeiro dá continuidade à paixão, escrevendo em jornais locais, recuperando a veia jornalística dos artigos que enviava para o Record. “O ‘bichinho’ do futebol morre comigo. Está enraizado… até à medula”, afirma.
Ao longo de 50 anos, cruzou-se com figuras que marcam a história do futebol: José Mourinho, Eusébio, Chalana, Eric Cantona, Nené, Jorge Jesus, Dunga, Peres… De todos guarda fotografias e episódios – até com árbitros. “Num jogo entre os padres da Diocese de Leiria-Fátima e a GNR, o árbitro Olegário Benquerença estava a falar com o treinador da equipa dos padres, o padre Davide. Eu chego e digo: ‘Então sr. padre, está a combinar um penaltizinho?’ E o Olegário responde: ‘Um não, dois que eu também bebo!’”, conta.
Depois do livro, fica alguma história por contar deste meio século de convivência com o futebol? “Isto é inesgotável. Vou ver um jogo e se houver uma ‘boca’ da bancada, registo. Já são perto de 800 episódios”, refere, lamentando não poder acrescentar um enquanto internacional. “Vesti a camisola da seleção mas não joguei. Foi o maior desgosto que tive no futebol: não ter sido internacional”.
Marina Guerra (textos)
marina.guerra@regiaodeleiria.pt
Joaquim Dâmaso (fotos)
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