“O xadrez é, sobretudo, um pilar essencial na formação do homem do futuro. Mas pode ser jogado em todas as idades”. Quem o afirma é Carlos Dias, antigo presidente da Associação de Xadrez de Leiria (AXL) e atual presidente da Xadrez’Arte.
Durante o workshop “Aprenda a Jogar Xadrez”, promovido por três associações – Peão Cavalgante, Xadrez’Arte e Corvos do Lis -, que decorreu na Fnac no passado sábado, tentou-se sensibilizar as pessoas para os benefícios da modalidade.
No pequeno bar da loja do LeiriaShopping, crianças e alguns pais sentaram-se nas mesas onde se dispunham os tabuleiros, para cerca de duas horas de aprendizagem. O evento destinou-se a pessoas dos 3 aos 99 anos, mas foram sobretudo as crianças que ocuparam os lugares – doze – onde tiveram a oportunidade de aprender com os organizadores do workshop.
Salientando os valores do convívio e do respeito mútuo que o xadrez desenvolve nas pessoas, Carlos Dias aponta a idade dos 4 aos 5 anos como a “altura ideal para se ter um primeiro contacto com a modalidade”.
No entanto, o xadrezista lembra que este é um desporto que pode ser praticado “dos 8 aos 80 anos”. “Todos, lá em casa, podem jogar”. E adianta que, “segundo estudos feitos no estrangeiro, o xadrez ajuda a prevenir a doença de Alzheimer”. Daí que a Xadrez’Arte esteja também empenhada em aulas para a terceira idade.
Benefícios para a educação das crianças
Depois de dar algumas indicações a uma menina de seis anos que se aproxima do xadrezista para pedir ajuda, Carlos Dias refere que a modalidade “aumenta a criatividade, a capacidade de concentração, de memória, de análise e de respeito pelo parceiro nas escolas”.
Com efeito, o silêncio e a relativa calma do local vão ao encontro dessa ideia. De olhos fixos nos tabuleiros, as crianças permanecem atentas aos movimentos de cada peça e às explicações dos organizadores. Por essa razão, Carlos Dias afirma a importância de levar a modalidade para as escolas. “Na União Europeia, o ensino foi remodelado e o xadrez é quase obrigatório nos estabelecimentos”, garante.
Porém, “em Portugal, estamos aquém”, lamenta. O xadrezista acredita que a prática desta modalidade põe em evidência capacidades que os meios de educação tradicionais deixam passar despercebidas. “Mas é uma guerra nossa, implementar o xadrez no ensino”.
O presidente da Associação de Xadrez de Leiria, José Cavadas, lembra a presença da modalidade, dentro do distrito, “em algumas Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC) e no desporto escolar”, nomeadamente em Alcobaça, Figueiró dos Vinhos, São Martinho do Porto, Nazaré e Benedita.
José Cavadas afirma ainda que “tanto as pessoas como as câmaras estão recetivas. O problema é sempre o dinheiro”.
Falta de clubes
No que respeita ao município de Leiria, escasseiam os clubes de xadrez. Na verdade, existe apenas um, formado no passado mês de agosto: o Clube Cultural e Desportivo Corvos do Lis, instalado nas galerias Alcrima. Mais perto, só na Marinha Grande.
Vítor Hugo Carreira, vice-presidente do Corvos do Lis, afirma que a intenção da coletividade passa por integrar, durante os tempos livres das crianças, o xadrez com outras atividades.
“Temos já um polo na Caranguejeira onde existe, por exemplo, yoga e ginástica de manutenção”, afirma. “Porque o nosso objetivo é ligar o desporto à matemática”, justifica o presidente Gonçalo Ferreira. Em resposta ao preconceito de que o xadrez não é modalidade desportiva, o dirigente defende o oposto, com o argumento de que “há competição”.
“A exigência só não é física, mas mental”, acrescenta.
Além disso, o Corvos do Lis pretende dar apoio escolar aos atletas, mesmo em período de férias. A primeira atividade oficial do clube está marcada para o próximo dia 17 de novembro.
O evento consiste num torneio de xadrez que vai decorrer no Mercado de Santana e que estará, mais uma vez, aberto a todos os interessados, independentemente da idade.
(Leia a reportagem na íntegra na edição de 12 de outubro de 2012)
Fernando Sá Pessoa
fernando.sapessoa@regiaodeleiria.pt