“Esta guerra é pior, é mais traumática”. Palavra de José Manata que conheceu a guerra em Angola nos tempos de juventude e hoje, com 40 anos de atividade na área da ourivesaria, tem vários assaltos violentos inscritos nas memórias que recorrentemente o assaltam.
E é essa a guerra, “civil”, que não tem dúvidas em considerar mais penosa. Sobretudo à noite. São pesadelos que o fazem reviver os momentos de aflição: quando a vida está presa por um fio, de arma apontada por quem lhe quer subtrair o ganha-pão.
Este ourives da Caranguejeira é vizinho de Saul Faustino na profissão, no espaço no mercado de Leiria e no drama. O drama de conviver com as sequelas dos assaltos. “Ainda hoje sonhei com isso”, confidencia Saul Faustino quatro anos depois do fatídico dia em que foi vítima de carjacking. Mas têm mais em comum.
Ambos sofreram crimes que são traduzidos em processos que as autoridades muitas vezes arquivam. Formalmente, o caso morre nesse instante. Emocionalmente, perdura. Saul e José são “vizinhos” de muitos outros que abruptamente viram inscritas nas suas vidas quotidianas, a anormalidade de um assalto, crime que é vivido, sofrido, em solidão.
Apresentar queixa significa inscrevê-la em papel. Nada mais. O apoio psicológico é nulo. A experiência passa a ser um património a digerir pessoalmente. Por vezes com sucesso. Um casal da Marinha Grande que se ausentou poucos minutos de casa para passear a neta, regressou a uma habitação remexida de onde foram furtadas joias e moedas de coleção.
O seguro amortizou parte dos prejuízos e os 14 meses que já passaram fizeram o resto. O sobressalto inicial esmoreceu, a experiência é agora pouco mais que uma história para contar.
“Quando há violência, certamente que é pior”, admite um dos elementos do casal. E provavelmente terá razão, ainda que os especialistas evitem fazer essa relação direta.
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