Henrique Pinto anunciou hoje que não se recanditará à presidência do Orfeão de Leiria, uma decisão que surge no dia em que comemora 30 anos de liderança da instituição.
No balanço de três décadas à frente do Orfeão, o presidente acredita que “todos os objetivos desenhados foram atingidos e, mesmo se grandiosos, praticamente sem recursos”, revelando, em comunicado, que não pretende recandidatar-se à liderança do conservatório.
No documento, Henrique Pinto assume que deseja “continuar a ajudar no que puder e for desejável” e que tudo fará “nos próximos meses para que o processo de transição diretiva, numa organização tão singular e grandiosa como esta, decalque os preceitos seguidos na Fundação Gulbenkian, a que tanto devemos, sem hiatos de qualidade, disputas estéreis ou de aprendizagem”.
O atual dirigente entrou para a direção em 1983, na sequência de um desafio que lhe lançou Moreira de Figueiredo.
“Assisti aos momentos altos do teatro com o ‘Quiné’ e à construção do auditório do Orfeão Velho”, recorda Henrique Pinto, sublinhando que arte dramática tinha, há 30 anos, “uma franca pujança graças a esse enorme precursor do pós-modernismo, ‘Quiné’, como ator e encenador, um mago na diversidade de influências, do realismo e depois do neorrealismo a Brecht, Piscator ou Stanislavsky”.
O presidente nota que a atividade do Orfeão de Leiria se baseava, à época, “em lições de solfejo, impulsionadas por um homem brilhante como José Ferreira Neto; aulas de ballet da professora Mercedes Stoffel, com uma bonita récita anual; e um coro masculino a definhar, com idades muito avançadas, a cantar coros de óperas, a que o maestro Guy Stoffel ia dando brilho graças ao seu brilho”.
Henrique Pinto considera que, “o que cresceu depois, nas associações como nas autarquias, bebeu um pouco do que florescia no Orfeão”, onde, “na minha gestão, sempre se fez muito com muito pouco”.
“Chegámos aos dias de hoje em que a cidade apresenta um dos melhores per capita em termos de oferta cultural (já teve o melhor do país, recentemente, segundo o Expresso, produzíamos então mais de 300 realizações/ano diferentes), com alguma diversidade de projetos na cidade (mesmo os que beneficiam duma adesão popular mais fácil que logo impressiona desmesuradamente os opinantes apressados), e isso conforta-me, revejo-me, como aos que me acompanharam, nesse caminho difícil de construir”, afirma o presidente do conservatório.
Dentro de dias está previsto o lançamento do décimo livro de Henrique Pinto, “Uma História de Amor”, que o autor descreve como “um ensaio onde perpassam as razões sociológicas e políticas para a cultura, do Estado Novo ao pós-modernismo”.
Depois, Henrique Pinto anuncia que vai vai dedicar-se a outras atividades, entre elas “a gestão do seminário científico que aí vem e o ser pivô com grandes jornalistas do renovado ‘Café das Quintas’, apenas algumas das formas de continuar o trabalho com o Orfeão”.