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Sociedade

Casa-Museu João Soares. O jardim “Nobel” de Leiria

A arte de Gonçalo Ribeiro Telles pode ser visitada em Leiria, numa encosta da freguesia de Cortes. Oportunidade para passear na paisagem pensada pelo vencedor do Prémio Geoffrey Jallicoe, o equivalente ao Nobel da arquitetura paisagista.

A obra de um “Nobel” pode ser visitada 24 horas por dia nas Cortes, em Leiria. Gonçalo Ribeiro Telles, autor do jardim da Casa-Museu João Soares (CMJS), venceu o que é considerado o prémio Nobel da arquitetura paisagista, o Prémio Geoffrey Jallicoe.

É um espaço privilegiado. Com vista sobre a Senhora do Monte e Maúnça, está aberto a todos, convidando ao descanso ou ao passeio perfumado pelas flores e embalado pelo chilrear dos pássaros.

A amizade entre Mário Soares e Gonçalo Ribeiro Telles proporcionou a Leiria aquele que é o único projeto do arquiteto no concelho. Surgiu em 1996, com a Casa-Museu. Um pomar foi integrado no projeto pelo arquiteto, “assumindo a ruralidade da zona com a maioria das árvores que já existiam”, refere o diretor da CMJS. Jorge Estrela lembra a sensibilidade de Ribeiro Telles para “as paisagens pré-existentes”.

Em baixo, no estacionamento, repousa o carro que Mário Soares utilizou nas campanhas eleitorais pós-25 de Abril de 1974. Subindo, duas escadarias ladeiam as árvores de fruto – remessas de nectarinas e pêssegos chegam regularmente a Lisboa, à Fundação Mário Soares. Também há carvalhos, medronheiros, folhados, aroeiras…

“É um dos projetos em que o arquiteto deu mais importância à florística autóctone que se estende à pequena flora vascular, usando como acompanhamento pequenas flores ruderais como as boninas nos planos de plantação, como que saindo diretamente dos versos de Rodrigues Lobo”, descreve Jorge Estrela.

Ao REGIÃO DE LEIRIA, Gonçalo Ribeiro Telles confirma o propósito de “integração na paisagem da própria região”, num espaço com “aspetos de mata e de prado, traduzidos por relvados e jardins com flores”.

Perto da CMJS, desenhou uma zona de descanso. “Queria que ali as pessoas se sentissem mais desafogadas, porque o jardim está mais alto com o aproximar da casa. Ali a vida é mais ativa”. Junto à casa são organizadas atividades para crianças no verão. Ocasionalmente, o pequeno auditório ao ar livre recebe teatro e concertos.

Sempre acessível, tem ocasionais visitas indesejáveis à noite. “Como na maioria dos espaços públicos”, nota Jorge Estrela. Mas o vandalismo é raro. O jardim é procurado sobretudo pela população de Cortes. Nos últimos tempos tem recebido mais pessoas, não pelo prémio agora atribuído a Ribeiro Telles mas por ali estar escondida uma caixa de geocaching. “Infelizmente penso que esta alta distinção não irá influenciar muito as visitas”, lamenta Jorge Estrela.

“Não existem em Portugal hábitos de compreensão desse tipo de paisagem que pertence à cultura e está fora da apreciação sumária da maioria das autarquias, que se satisfazem com uma rotunda com relva e amores perfeitos”, conclui.

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