A saúde concentra parte significativa da nossa atenção. Sábado, na Nazaré, a segunda conferência ComcepCon, da Comunidade Céptica Portugal, foi exemplo disso. O programa incluía palestras sobre Química, Física e Medicina, mas foi esta que seduziu os oradores e também o público que encheu o auditório da Biblioteca da Nazaré.
A importância da Química para a saúde foi um dos ângulos da intervenção de Paulo Ribeiro Claro. O professor universitário e investigador na área da Química-Física tentou mostrar que a Química não é tão malvada quanto dizem.
“A Química conseguiu ter má fama e tudo o que é químico à partida é agressivo para o ambiente”. Mas Paulo Claro lembrou a relevância da Química na saúde. Por exemplo, em medicamentos que, extraídos da natureza. Como a casca de salgueiro, que contém ácido salicílico – um bom analgésico – mas que ataca o estômago. A Química permite obter dali ácido acetilsalicílico, sem esse efeito secundário.
O orador contou ainda uma história com que se deparou no Reino Unido: nos cafés, tornou-se popular pedir açucar amarelo, porque, por ser menos refinado, era considerado mais natural e, logo, mais saudável.
Acontece que, por ser em pó, o açúcar amarelo tem tendência a formar torrões e é mais difícil de ser usado nos doseadores que são bastante utilizados no Reino Unidos. A solução, contou Paulo Ribeiro Claro, passou por recorrer a açúcar branco cristalizado e adicionar-lhe corante amarelo”: “As pessoas ficaram satisfeitas porque estavam a consumir açúcar amarelo, que associavam a algo natural, sem perceberem que era açúcar refinado”.
A importância de partilhar conhecimentos como estes foi sublinhada por Paulo Claro. “Já não acreditamos que existe um homenzinho a falar dentro do rádio. Mas há pessoas que acreditam em coisas que, para nós, são equivalentes”, notou o investigador, lembrando o fenómeno das pulseiras energéticas.
Nesse particular, as chamadas medicinas alternativas suscitaram o momento mais tenso da conferência. Manuel Rosa Martins, especialista em Física, deveria falar do Bosão de Higgs. Ao invés, atirou-se com unhas e dentes ao que chama “medicina de alterne”: “Faço um apelo público às farmácias para deixarem de enganar as pessoas. Terapia quântica, reflexologia, magnetoterapia, iridiologia, é tudo treta, uma sopa de palavras sem significado. Estão a matar pessoas com esta vigarice!”.
Quando um terapeuta de reflexologia presente na sala pediu a palavra, Manuel Rosa Martins reagiu imediatamente, solicitando a intervenção das autoridades. “Não existe medicina alternativa, existe medicina de alterne!”.
A calma regressou à ComceptCon com António Vaz Carneiro. O médico lembrou que os doentes são “naturalmente e colossalmente ignorantes” e, por isso, a luta contra a iliteracia científica em saúde “não tem fim”.
Na querela entre medicina tradicional e alternativa, Vaz Carneiro assumiu-se firme defensor da sua prática, “mas não fundamentalista”. “Muito do que fazemos em medicina não fazemos a mais pequena ideia porque funciona. Mas se os resultados forem bons, nem quero saber”.
Alinhando no registo bem humorado da conferência, o médico foi mais longe: “Se houver um estudo que diga que os meus doentes diabéticos ficam curados se forem de joelhos até Fátima, eu receito-lhes idas de joelhos até Fátima!”.
(Notícia publicada na edição de 14 de novembro de 2013)
Manuel Leiria
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt
Luis disse:
Já agora o Palestrante de Fisica devia se ter preocupado em falar do bosão de higgs, pelos vistos era o tema da sua palestra. Preferiu falar das medicinas alternativas que penso que nada tem haver com bosão de higgs. A Ciencia está bem entregue não haja duvida, no seu melhor…comédia.
Luis Marques disse:
O sr. que se diz físico deve ter recebido dinheiro para dizer estas barbaridades.
Quanto ao link da organização mundial de saude… existem 203 paginas no site que falam de acupuntura este senhor não deve saber lêr.
http://search.who.int/search?q=acupuncture&sp…
Não morreu ninguém por causa de vacinas, então porque algumas delas foram proibidas em alguns Países foi obra do acaso.
E que a maior parte das descobertas cientificas da dita medicina convencional dos dias de hoje, tem como base a medicina chinesa, consultem a FDA ou estudos publicados pela universidade de Harvard.