Há muitos anos que Susana Lopes sonhava com a possibilidade de oferecer ao filho, que sofre de uma doença degenerativa grave, o mesmo prazer da dança que a filha Rute usufrui. Nunca encontrou resposta. Mas desde dezembro de 2013 que isso é possível no projeto de Dança Integrativa da Associação de Dança de Leiria (ADDDL).
A associação dedica-se a múltiplas disciplinas da dança, mas na génese estava já o desejo de responder à vontade de pais como Susana, que procuram dar um momento de felicidade aos filhos.
Em parceria com a 4ars Barcelona, às sextas e aos sábados, nas instalações da associação, no Estádio Municipal de Leiria, a ADDDL promove aulas de dança com pessoas que têm necessidades especiais motores ou intelectuais e com quem não sofre com essas limitações.
“Acima de tudo”, explica Maria Forte, “importa recuperar algo que estas crianças perdem muito rapidamente: a autoestima”. A presidente da ADDDL fala com entusiasmo da novidade, que inclui também Dança Movimento Terapia (DMT), uma componente terapêutica destinada exclusivamente a pessoas com necessidades especiais profundas. Em Portugal a DMT já existe em Lisboa e no Porto e, agora, passa a ser também ministrada em Leiria.
A Dança Integrativa é exclusiva para Leiria. O arranque acontece com seis jovens com deficiência, indicados pela Cercilei, APPC e Os Malmequeres, a quem a ADDDL oferece a participação. “Pedimos que sejam pessoas com dificuldades económico-financeiras, para que, já que vamos oferecer, seja a quem verdadeiramente precisa”.A eles juntam-se seis participantes sem deficiência.
“A Dança Integrativa é adequada a todos, pessoas com ou sem deficiência”, sublinha Maria Forte. Inclusive pode abranger quem está em risco de exclusão, depressão ou stress.
Para filhos e pais
Durante um ano, o protocolo com a 4ars permitirá à associação receber formação específica na área, partilhar conhecimentos com técnicos de instituições e monitorizar as aulas dadas em Leiria: duas vezes por mês os terapeutas espanhóis viajam até Leiria e semanalmente acompanham as sessões via Skype.
A ADDDL pretende ainda criar um espaço para as famílias dos jovens com deficiência. “Queremos promover a partilha, a discussão, o desabafo. O drama não está só na criança e no jovem. As famílias vivem muito esse problema, uma realidade que é invisível”.
O projeto está aberto a todos que queiram participar nesta dança com motivações muito especiais. E há muita expectativa quanto aos resultados, assume Susana Lopes: “A dança exterioriza tudo o que tem a ver com o indivíduo, desde a sua forma de estar à forma de viver”.
(Notícia publicada na edição de 19 de dezembro de 2013)
Manuel Leiria
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt