“Começo por dizer que sou sócio da União de Leiria”. Foi assim que Eusébio iniciou a conversa com o jornalista do REGIÃO DE LEIRIA a 24 de outubro de 1984, no final do jogo particular entre União Desportiva de Leiria e Académica de Coimbra. Era sócio correspondente desde 1967, com o número 1.583.
A partida no estádio Dr. Magalhães Pessoa, organizado pelo Lions Clube de Leiria, tinha carácter solidário mas ficou também registada como o primeiro encontro em que o Pantera Negra vestiu a camisola da União de Leiria. E até marcou um golo.
Alinharam nessa equipa vários “craques” da região: António Martinho, Artur Quinta, João Carvalho e Vítor Pontes, entre vários outros.
O atual treinador do Clube do Chibuto (Moçambique), foi o guarda-redes da União nesse jogo. Quase trinta anos depois, ainda se recorda bem desse dia. “Joguei com o Eusébio e foi um motivo de grande orgulho fazer parte da equipa com um dos melhores jogadores do mundo. É sempre um motivo de grande satisfação e orgulho”, afirma Vítor Pontes, que foi jogador e treinador da equipa leiriense.
A morte de Eusébio da Silva Ferreira, no passado dia 5, abalou muitos adeptos benfiquistas e não só. Todos os que privaram com ele e que apreciam um bom jogo de futebol, recordam o Mundial de 1966 e enaltecem as qualidades do “King” – cognome como gostava de ser tratado.
Vítor Pontes destaca-o como “um dos melhores”. “Enquanto pessoa, era alguém de uma grande humildade e muito simples. Gostava muito de vencer e era determinado. Destaco a humildade e simplicidade como uma das suas grandes qualidades”, diz.
Mas a ligação do Pantera Negra a Leiria não se limitou ao jogo de 1984. Cinco anos antes, em 1977/1978, na última época em que competiu em Portugal, o avançado estreou-se pela União de Tomar no jogo frente à União de Leiria. Perdeu 0-1. Ainda nessa época, defronta o Peniche e marca o golo da vitória (0-1) e empata com o SCL Marrazes (0-0).
Homenagem
“Ele era conhecidíssimo, mas não se metia em bicos de pés. Era uma pessoa séria, humilde e dentro de campo era fantástico”, frisa Ramiro Antunes, presidente da Casa do Benfica de Leiria. O dirigente cresceu enquanto Eusébio conquistava títulos no Benfica e não esquece a participação no Campeonato do Mundo de 1966. “Os meus primeiros 15 anos de vida são os 15 anos de Eusébio no Benfica. Na altura, sem televisão, seguiam-se os jogos na rádio e eu ouvia falar dele e das conquistas dele. Em Portugal ganhou tudo o que havia para ganhar”.
Quem também se cruzou com Eusébio foi Tuna Caranguejeiro. Conheceu-o enquanto foi jogador júnior do Benfica e partilhava o mesmo lar em que Eusébio vivia. “Um dia, porque ele era patrocinado pela marca Puma, depois de um treino, ofereceu-me umas botas. Umas a mim e outras ao Raul Águas”, lembra.
Assistiu a jogos, treinou com ele e recorda as “boladas” que sofreu enquanto elemento da barreira para treino do avançado. “Ficava sempre a treinar mais um bocado, a marcar livres e penáltis. Era um excelente jogador. Boa pessoa, um homem do mundo”, salienta. Tuna recorda-se também das centenas de cartas de fãs que Eusébio recebia. “França, Itália, Austrália, todas com carimbos. Isso ficou-me na memória”, conta o antigo defesa, que como jornalista o reencontrou várias vezes.
CSA e MG