Imagine um campo de futebol semelhante ao que existe no estádio da Luz, do Dragão ou de Alvalade. Agora multiplique essa área por 25. Esta é a área de floresta que, a cada semana, se perde na região. São 25 campos de futebol a cada sete dias.
Este valor de desflorestação no distrito de Leiria foi calculado com recurso a imagens de satélite que detetam manchas florestais com árvores com cinco ou mais metros de altura. O mesmo sistema, constata igualmente quando essas manchas deixam de existir. Seja por causa de incêndios, de temporais ou pela ação humana. E de 2000 a 2012, o distrito de Leiria perdeu nada mais nada menos que 11.563 hectares de floresta. Um valor um pouco acima de toda a área do concelho da Batalha.
Este método de análise da evolução da mancha florestal não é novo, mas nunca esteve tão acessível. A Google, gigante da internet, disponibilizou recentemente uma nova ferramenta denominada de Global Forest Watch (disponível em www.globalforestwatch.org) que faz o cruzamento das imagens de satélite e calcula a área de floresta que desapareceu e aquela que surgiu numa determinada área.
O REGIÃO DE LEIRIA utilizou esta ferramenta para analisar a área aproximada do distrito de Leiria. E a ferramenta é clara. Naqueles 12 anos, nos cerca de 370 mil hectares de área do distrito, perderam-se 33.532 hectares de floresta e apenas se ganharam 21.969. No deve e haver surge esse valor: 11.563 hectares de floresta perdida.
O mesmo será dizer que, neste período bastante fértil em incêndios, por cada 1,5 hectares de floresta perdida, apenas foi reposto um hectare. E importa sublinhar que entre nós, desapareceram, diariamente o equivalente a cerca de 3,6 campos de futebol de floresta (levando em conta que os campos dos estádios da Luz, Dragão e Alvalade medem 105 por 68 metros).
A Global Forest Watch permite o acompanhamento real da evolução da floresta em vários pontos do planeta, tomando por base um algoritmo desenvolvido pela Universidade de Maryland, dos Estados Unidos da América.
Para além das imagens de satélite, usa mapas florestais existentes, permitindo ainda ao utilizador introduzir dados que facilitem uma análise mais detalhada. Em boa verdade, à semelhança de outras ferramentas da Google, é possível aproximar a imagem e perceber a evolução da mancha florestal em zonas mais pequenas.
Pode mesmo pedir ao sistema que calcule a evolução da floresta numa pequena localidade. Basta usar a ferramenta para “desenhar” a área a analisar e esperar que o sistema calcule a área que desapareceu e a que foi criada.
Por defeito, o continente português já está definido e demarcado, sendo possível constatar que de 2000 a 2012 se perderam 498.668 hectares de floresta, sendo que nesse período se ganharam 286.577 hectares de árvores.
Já ao nível planetário, os números são mais assustadores: por cada 10 hectares de floresta perdida só um metro quadrado é reflorestado. Nesta dúzia de anos, perderam-se 2,3 milhões de quilómetros quadrados de floresta contra apenas 800 mil quilómetros quadrados de novas árvores.
O divórcio forçado com a floresta na Marinha
Para além dos incêndios, também o mau tempo tem impacto na floresta. O temporal de janeiro de 2013, foi o exemplo extremo disso mesmo.
Na Marinha Grande, os efeitos ainda se fazem sentir, pois várias zonas de floresta continuam fechadas ao uso humano, em consequência do estado debilitado de algumas árvores. A ligação daquele concelho à floresta não é nova e o feriado municipal, este ano a 29 de maio, é celebrado em plena floresta.
Contudo, tudo indica que, à semelhança do que aconteceu o ano passado, a zona da Mata Nacional, junto a São Pedro de Moel, continuará fechada.
O assunto foi inclusivamente debatido na reunião do executivo municipal. Continuam árvores caídas no local e muitas arriscam tombar, explicaram os responsáveis municipais. Ainda não estão reunidas as condições de segurança para visitar a zona.
Números
25
A cada semana que passa, o distrito de Leiria perde o equivalente a 25 campos de futebol em mancha florestal. Um número que representa a tendência média entre 2000 e 2012
1,5
Por cada hectare e meio de floresta que desapareceu nos primeiros 12 anos deste século no distrito, apenas foi reposto um hectare. Um decréscimo preocupante na mancha verde da região
1,7
Para se formar uma tonelada de biomassa vegetal, as árvores têm de capturar cerca de 1,7 toneladas de dióxido de carbono. Quando a floresta arde, o dióxido de carbono regressa, num ápice, à atmosfera
2,3
Entre 2000 e 2012, em todo o planeta, perderam-se 2,3 milhões de quilómetros quadrados de floresta contra apenas 800 mil quilómetros quadrados de novas árvores, revela a ferramenta disponibilizada pela Google
Carlos S. Almeida
carlos.almeida@regiaodeleiria.pt
(Notícia publicada na edição de 13 de março de 2014)
Miguel disse:
Absolutamente assustador. Nos anos 90, Leiria e arredores eram uma maravilha.
Quando cheguei, era pequeno e inocentemente pensei que a Villa Portela era o jardim botânico de Leiria. lol
E na zona de Mourã, o pinhal está a desaparecer aos poucos, tanto que já se vê a estrada nacional. Vê-se e ouve-se! Primeiro foi a contsrução da auto estrada, até os sobreiros cortaram.
Não tenho palavras.