Paulo Fonseca, ex-treinador do FC Porto, foi o último a sofrer a chicotada psicológica na I Liga. Antes foi Jesualdo Ferreira que saiu no Sp. de Braga, Henrique Calisto no Paços de Ferreira, José Mota no Vit. Setúbal, Costinha no Paços de Ferreira, Paulo Alves e Abel Xavier no Olhanense.
Por cá, o cenário não é melhor. Na presente época desportiva, nove treinadores foram dispensados das equipas das distritais. Motivo? Na maioria dos casos, são os resultados desportivos longe dos objetivos que foram traçados no início da época que estão na origem da decisão.
Mas mudar de míster é suficiente para a equipa dar a volta por cima? “A própria expressão ‘chicotada psicológica’ significa que vai haver mais uma mudança de atitude do que nos métodos de treino utilizados. Ao escolher um novo treinador, uma nova liderança, o discurso, do próprio espírito de união no grupo”, explica Raul Antunes, técnico superior de Desporto, com especialização em Psicologia do Desporto.
Contudo, entende, é preciso analisar como é que o técnico reage perante resultados menos bons. “Muitas vezes a mensagem chega aos jogadores, há uma alteração por parte do próprio treinador mas mesmo assim os resultados não são satisfatórios. Outras vezes, não consegue reagir aos resultados e, se está afetado, então deve sair”, considera.
Para Filipe Faria, treinador do Ginásio de Alcobaça, cada caso é um caso e depende da competição em que a equipa está inserida. “Se o sucesso é de todos, o insucesso também tem que ser responsabilidade de todos. O mais fácil de mudar é o treinador, é só um. A equipa são 20”, diz.
Não acredita que o mau desempenho de uma equipa seja provocado apenas por quem dirige o grupo de trabalho e, por vezes, diz, até acontece o contrário. “Um treinador pode trabalhar muito mal que, se os resultados aparecerem, nada acontece”, acrescenta.
Nuno Simões, presidente do ID Vieirense, partilha da opinião de Filipe Faria: “É mais fácil mudar o treinador do que muitos jogadores”. O clube que dirige não tem vivido momentos complicados, realça, e por isso as equipas técnicas têm continuado o seu trabalho. Compreende, no entanto, que outros clubes exerçam as “chicotadas psicológicas”. “A ‘chicotada’ traz novos métodos e pensamentos ao grupo. Abana o plantel e os jogadores também se empenham mais. Começam todos do zero”, refere.
Se resulta, fica a dúvida. A verdade é que a prática seguida revela que acaba por ser sempre o treinador a abandonar o projeto. Sobre a questão colocada no título: a culpa nem sempre é do treinador. Mas mudar de treinador é mais fácil do que mudar 23 jogadores.
Marina Guerra
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Joaquim Dâmaso (foto de arquivo)