Um artigo científico co-assinado por uma docente do Instituto Politécnico de Leiria estabelece pela primeira vez as bases para medir o retorno da formação paga pelas empresas.
A investigação conclui que uma hora de formação adicional gera um impacto positivo de 0,12% na produtividade e 0,04% nos salários. E mostra que os empregadores capturam 82% dos ganhos de produtividade, enquanto os trabalhadores ficam com os restantes 18%.
Publicado no International Journal of Manpower, o texto acaba de receber o prémio “Outstanding paper of the year 2013”. Melhor do ano. Um reconhecimento que já está a dar frutos. “Veio permitir contactos de outras editoras e de pessoas interessadas em saber como está a nossa investigação”, conta Ana Sofia Lopes, que dá aulas na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Leiria.
O principal contributo do artigo elaborado com Paulino Teixeira (da Universidade de Coimbra) é a fórmula que determina a taxa interna de retorno do investimento em formação e que define a parcela dos benefícios que cabe às empresas e aos trabalhadores.
Por outro lado, os ganhos das empresas são calculados como ganhos líquidos, isto é, excluídos os custos da formação e o aumento dos salários, o que também constitui novidade.
Os resultados apontam para um retorno de 13% para as empresas e 33% para os trabalhadores. Para chegar a estas conclusões, os investigadores consideraram que os trabalhadores sacrificam uma parte do seu tempo de descanso e lazer, enquanto as empresas suportam todos os custos diretos da formação e o valor das sessões que decorrem em horário de trabalho. Cerca de 86% das empresas obtêm uma taxa interna de retorno positiva.
Ganhos significativos
As médias e grandes empresas têm melhores condições para promover a formação que necessitam com economias de escala, admite Ana Sofia Lopes.
Nesta investigação, todas as organizações empregam mais de 100 pessoas e os resultados poderiam ser diferentes com outro tipo de perfis.
Mas a docente salienta que “os valores das taxas de rentabilidade são significativos” e devem encorajar os empregadores a investir em ações de formação, dado o impacto na produtividade do negócio. O peso atual nos custos do trabalho é inferior a 3%, indicam estudos internacionais.
Quanto à distribuição dos ganhos de produtividade – 82% para as empresas e 18% para os trabalhadores –, Ana Sofia Lopes entende que é adequada ao investimento de cada parte. “Nestes casos em que a formação profissional é sobretudo potenciada pelas empresas é natural que os benefícios sejam maiores para as empresas”, afirma.
Ana Sofia Lopes
Durante seis anos, Ana Sofia Lopes acompanhou as dinâmicas relacionadas com a formação paga em mais de mil empresas, responsáveis por 30% do emprego no sector privado em Portugal.
Embora a investigação tenha começado no período em que a docente estava a preparar o doutoramento, o artigo com o título “Productivity, wages, and the returns to firm-provided training: fair shared capitalism?” acabou por ser publicado em 2013 no International Journal of Manpower.
Ainda a tempo de receber o prémio para o melhor texto do ano, elaborado em conjunto com Paulino Teixeira, da Universidade de Coimbra. Ana Sofia Lopes dá aulas na Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria.
Cláudio Garcia
claudio.garcia@regiaodeleiria.pt
(Notícia publicada na edição de 17 de julho de 2014)