A Escola Secundária Raul Proença é presença assídua nos lugares cimeiros dos rankings escolares. Este ano ultrapassou as crónicas expectativas em torno das escolas públicas de Lisboa ou Porto, e tomou de assalto o trono reservado para a escola pública que melhor figura no ranking que compara os resultados dos exames dos 11º e 12º anos de escolaridade. Se a presença de Mourinho é coisa do passado, o método e a procura da vitória que o caracterizam, parecem fazer escola.
“O primeiro lugar surpreende sempre, mas um resultado que reflita a qualidade, não me surpreende”, confessa Paula Martins, subdiretora da escola que acumula funções de direção depois da aposentação de José Pimpão, anterior diretor a quem faz questão de atribuir mérito pelo resultado alcançado. Na tarde da última segunda-feira, Paula Martins já colecionava imensos contactos da comunicação social. Ser a primeira escola pública do país – “tem um sabor diferente”, confidencia – mas acarreta o interesse mediático.
Olhando para o ranking – e o REGIÃO DE LEIRIA adotou a tabela do semanário Expresso – Leiria consegue intrometer-se na hegemonia das grandes áreas metropolitanas. É o único distrito com duas escolas públicas nas dez melhores escolas públicas do país, para além de Lisboa e Porto. Desde 2012, o Ministério da Educação, para além dos resultados curriculares, divulga os dados de contexto das escolas.
Serão estes fatores determinantes para o sucesso? Nem sempre. Basta comparar a secundária de Caldas da Rainha, “campeã nacional”, com a mais bem classificada secundária da cidade de Leiria, a Domingos Sequeira. Ora, a escola de Leiria conta com instalações amplamente renovadas graças à intervenção da Parque Escolar, quase 95 por cento dos docentes nos quadros e encarregados de educação com habilitações escolares que variam entre os 12,4 anos (pais) e 13,6 anos (as mães). Acresce que “apenas” 16,8% dos alunos têm apoio social. Esta escola conseguiu o 154º lugar a nível nacional e nono distrital. Já a Raul Proença funciona em instalações a necessitar de obras, tem 88,6% dos professores nos quadros e encarregados de educação com habilitações escolares que variam entre 11,1 e 12 anos. O apoio social abrange 22,2% dos alunos.
E se olharmos para a segunda melhor escola do distrito, o contexto é ainda mais desfavorável (ainda que os dados reflitam não só a escola, mas todo o agrupamento). Na Batalha, 29,7% dos alunos contam com apoio social, as habilitações médias dos pais variam entre os 7,7 e os 9 anos. Também esta secundária necessita de algumas obras e a estabilidade do corpo docente não se distingue da média (89,2% dos docentes estão nos quadros). É a segunda melhor escola do distrito e a 44ª do país.
Tática para vencer
É aqui que a receita de empenho e sede de vitória de José Mourinho regressa à equação. E não apenas na escola que o treinador frequentou. Afinal, explicam os responsáveis das escolas que encimam o ranking distrital, trabalho e dedicação, são os ingredientes do sucesso.
“É um trabalho de equipa e de empenho dos alunos, da sua vontade de ter bons resultados, acompanhamento e dedicação dos professores e dos pais e encarregados de educação”, assegura Paula Martins. Luís Novais, diretor da Escola Básica e Secundária da Batalha, aponta o trabalho desenvolvido desde os primeiros anos de escolaridade, como o fator que ajuda ao resultado positivo. E claro, o “esforço desenvolvido pelos alunos que percebem que para ter sucesso é necessário empenho, trabalho e dedicação”. E se o contexto nem sempre é o mais favorável, há estratégias que ajudam a contorná-lo.
Em ano em que as escolas particulares engordaram a distância nos rankings nacionais em relação às escolas públicas, Paula Martins admite que a diferença nas condições de trabalho ajuda a explicá-la. “A escola pública tem menos recursos e turmas muito grandes, aqui a média é de 28 alunos por turma”, exemplifica. “Com melhores condições, seria possível fazer um trabalho de ainda melhor qualidade”. Já Luís Novais, admite que o ensino é uma maratona:“o sucesso não pode ser só visto por um resultado final, temos de ver qual é o ponto de partida e o de chegada”, refere.
Carlos Almeida
carlos.almeida@regiaodeleiria.pt
Leia o trabalho na íntegra na edição de 4 de dezembro de 2014