Tiago Francisco, 31 anos, faz parte da equipa que, na Alemanha, controla a sonda Rosetta que transportou o robô Philae. O robô que, dia 12 de novembro, pousou no cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko, a 510 milhões de quilómetros da Terra. Ao REGIÃO DE LEIRIA, o jovem engenheiro informático, licenciado no Instituto Politécnico de Leiria, confessa que na semana passada viveu dias cheios de emoção.
“A última semana foi bastante frenética, algo que nunca tinha experimentado”. E lembra a tensão à espera da aterragem no cometa: “os segundos que antecederam a aterragem foram de silêncio”. Confirmada a aterragem, “a equipa celebrou efusivamente, mas depois de alguns minutos de celebração, seguiu-se o trabalho”.
Especialista em assegurar a comunicação com a sonda, Tiago acabou soterrado por mensagens bem mais terrenas, a dar-lhe os parabéns. “O telefone não parava com mensagens de amigos, familiares e conhecidos”, recorda.
A aventura “espacial” de Tiago Francisco arrancou pouco depois de ter acabado o curso. Trabalhou na Marinha Grande e em Lisboa durante ano e meio.
Gostava do que fazia mas “sempre tive a ideia de ir para o estrangeiro”. Morou com os pais em Macau oito anos e “queria saber o que passaram” e, também, viver “novas experiências”. Concorreu para um estágio na ESA. “Pensei que não teria grandes hipóteses”, confessa.
Contudo, três meses depois recebeu o telefonema que mudou a sua vida. Em janeiro de 2009, começou o estágio. Na ESA desenvolveu vários projetos inovadores: um sistema que permite acompanhar os dados de telemetria dos satélites via internet e um outro de compressão de dados, que permite poupar tempo no download da informação proveniente dos satélites. Ideia que a ESA está a tentar patentear.
Entretanto, começou a interessar-se pelas missões espaciais e concorreu a um lugar. Em 2010, estava de férias em Portugal quando recebeu a notícia de que o lugar era seu. Participou na missão Venus Express e, já este ano, na missão Rosetta. “Pessoalmente gostaria de ficar nesta missão até ao final e depois gostaria de continuar na ESA”, conta.
Portugueses “bem-vistos” na agência espacial
Desengane-se quem pensa que a formação dos portugueses fica aquém dos seus pares europeus. “Pensamos que não somos tão bem preparados como alemães ou suecos, mas há portugueses em todos os polos da ESA e acho que somos bem-vistos aqui”, explica Tiago Francisco.
Por cá, no Instituto Politécnico de Leiria, a participação do jovem marinhense na missão da ESA é motivo de “muito orgulho”, confirma Alexandrino Gonçalves, ex-professor de Tiago e coordenador do curso de engenharia informática.
Um curso “com uma taxa de empregabilidade altíssima no nosso país” e com ex-alunos “em grandes multinacionais e com reconhecido sucesso”, enfatiza o docente.
CSA
(Notícia publicada na edição de 20 de novembro de 2014)