A saída está marcada para as sextas-feiras, depois de almoço. Os alunos do 6º ano do Colégio Nossa Senhora de Fátima, em Leiria, que integram o Clube de Observação de Aves, vão para o terreno, conhecer melhor os pássaros que existem na cidade de Leiria.
Andorinha da rocha, pardal, pombo da rocha, garça real, ganso e felosa são algumas das primeiras aves que o grupo observa. Estão presentes entre a praça Rodrigues Lobo e o jardim Luís de Camões. Reconhecem-nas pelo voo, as cores das penas, o piar e até o local onde estão.
Uma das que mais chama a atenção é a garça real, pela sua grandiosidade. Trata-se de uma espécie típica da região durante o inverno e na cidade de Leiria há três exemplares que procuram alimento no rio. Ao longo de todo o Lis, há uma dezena de exemplares.
A espécie não era frequente na região e começou a aparecer em Leiria há cerca de sete anos. Atualmente, habita na região o ano inteiro. Provavelmente devido à vaga de frio que atingiu a região nos últimos dias, quando o Clube saiu à rua, as duas garças avistadas junto ao Hospital D. Manuel Aguiar, escolheram ficar nos telhados, ao sol, e não na água.
José Artur Pinto, professor de Ciências Naturais e orientador do Clube, é um aficionado pela observação de aves. “Os manuais escolares ensinam o que é o leão, a zebra, o elefante mas esses são animais que eles [estudantes] não podem observar de perto. Porque não ensinar-lhes as aves com que eles podem estar em contacto e que podem ver no dia a dia”, explica, enquanto acompanha os estudantes de máquina fotográfica ao ombro e um guia de aves no bolso.
A observação de aves é bastante frequente no norte da Europa e calcula-se que existam mais de 9 milhões de praticantes de birdywatching no mundo. O clube (amador) pretende apenas dar alguns conhecimentos aos jovens para observação e proteção das aves existentes na região.
Há duas semanas, o grupo identificou uma nova espécie junto ao jardim da Vala Real: o mergulhão pequeno. Na última saída para o terreno [em janeiro], o pássaro pequeno de face e pescoço vermelho não apareceu. Nada que os faça desistir. Na próxima saída vão voltar a procurar o mergulhão.
E a que é que se deve o surgimento de novas aves junto ao rio? Embora existam teorias diversas, José Artur Pinto defende que a “biodiversidade do rio está a aumentar” e por isso é frequente ver “mais vida no rio”. “De ano para ano verificamos que há mais variedade de aves, e não só, e um maior número de animais”, diz.
A presença de um bando de bico-de-lacre no jardim da Vala Real é exemplo disso. Apareceu no ano passado e quem passeia por ali facilmente os observa e escuta.
75
Existem 435 espécies de aves em Portugal. Só na cidade de Leiria, ao longo do ano, é possível observar 75 dessas espécies. Nas saídas do Clube de Observação de aves do Colégio NS Fátima, o grupo identifica em média 18 espécies
Mais pequeno que um pardal, o bico-de-lacre é identificado pelo espesso bico vermelho vivo, com o resto da plumagem dominada pelo castanho nas partes superiores e nas asas e o ventre com tons avermelhados. O chamamento que emite também o identifica.
Outra espécie comum junto do rio é a felosa. Abundante no inverno, é um animal relativamente pequeno, rechonchudo e alimenta-se sobretudo de efémeras, insectos que vivem apenas 24 horas (dedicando-se apenas à reprodução e postura dos ovos) e existem ao longo do percurso Polis em pequenas nuvens de insectos.
Na rápida saída de uma hora, o grupo de estudantes, que o REGIÃO DE LEIRIA acompanhou, concentra-se, na ponte Hintze Ribeiro, na observação de um guarda-rios. O pássaro emitiu um piar mas ficou escondido. É graças às cores azul das asas e do peito e laranja do ventre que os “experientes observadores” acabam por o identificar entre os ramos de uma árvore.
Raibirruivo (que se identifica pela cauda cor de fogo), carriça (com um dos cantos mais fortes e melódicos das aves) e a galinha d’água foram outras das aves identificadas pelos membros do clube do Colégio N. S. Fátima, no centro de Leiria, na última saída, num total de 14 aves diferentes.
Marina Guerra
marina.guerra@regiaodeleiria.pt
(artigo publicado na edição de 26 de janeiro de 2017, editado para publicação online)