No meio do nada, numa localidade com um nome nada amistoso – Mata -, a menos de 10 quilómetros de Leiria, existe um clube e um pavilhão.
Rodeados por um pinhal. Mas ali o que se respira é futsal. E todos na aldeia vivem o clube intensamente e sem direito a dia de folga. O amor das gentes da terra à Associação Desportiva e Recreativa da Mata (ADR Mata), nos Milagres, foi um dos motivos que levou Vitor ‘Tó’ Coelho a abraçar este projeto.
Depois de dez anos afastado das competições distritais de futsal, o técnico aceitou o convite “persistente” da equipa leiriense e minimizou as saudades que tinha de trabalhar com o escalão sénior.
“O desafio da ADR Mata é compatível com os meus outros dois projetos. Tive vários convites de clubes profissionais, mais nenhum me paga o suficiente para poder abdicar da minha profissão [ser docente] e ser só treinador”, explica.
Houve um momento na sua vida em que o fez. Esteve durante um ano a treinar o Shenzhen Nanlin, tricampeão chinês, em regime profissional, integrando a equipa técnica de Adil Amarante, amigo e antigo treinador do Instituto D. João V.
Experiência e energia
De regresso ao futsal nacional, depois de ter começado pelas mãos de Adil Amarante no Instituto D. João V (IDJV), onde fez toda a formação como jogador, e passagens como treinador pelo Sp. Pombal, Núcleo Sportinguista de Leiria e Académica, desde novembro que Tó Coelho orienta a ADR Mata, na II divisão nacional.
Quinze anos depois de ter deixado de jogar ao lado de Nuno Dias, atual treinador do Sporting, bicampeão nacional, Tó Coelho encontrou na Mata antigos companheiros de equipa: Ruizinho e Nino (que entretanto saiu para a Burinhosa) jogaram com ele no IDJV. Rui Pereira e Sílvio estavam nas primeiras equipas que treinou: Sporting de Pombal e Núcleo Sportinguista de Leiria. São atualmente seus jogadores.
A experiência conta? “Não ligo à veterania. Interessa-me o que fazem no treino e no jogo. Eles continuam a dar cartas e juntam o seu conhecimento à energia da malta mais nova e fervorosa de futsal”, diz.
Afastada a possibilidade de chegar à fase de subida, devido a um conjunto de maus resultados iniciais e às lesões que afetaram três dos principais jogadores, o clube redefiniu os objetivos da temporada. “A manutenção. E consolidar o projeto do clube na II divisão para depois, passo a passo, conseguir evoluir. A 2ª fase é uma forma de garantir a manutenção mais cedo e com menos custos. Além disso, permite competir com outras equipas do mesmo nível, o que melhora o jogo”, entende. “Está fora da nossa realidade neste momento”, acrescenta.
Para o treinador, o futsal tem evoluído nos últimos anos com tendencia para o resultado. “A qualidade do jogo piorou. Há a preocupação do trabalho para o resultado e uma tendência para copiar a equipa que ganha mais vezes, nomeadamente o Sporting. Há falta de criatividade na forma como se trabalha e na metodologia de treino”, entende.
Mudar as mentalidade é o seu grande objetivo na ADR Mata. “Para o meu trabalho ter qualidade, o jogador tem que evoluir. Temos que revitalizar os escalões de formação e para a equipa sénior e com isso trazer mais pessoas para o projeto. Vai trazer estabilidade para o futuro”, explica.
Marina Guerra (texto)
marina.guerra@regiaodeleiria.pt
Joaquim Dâmaso (fotos e vídeo)
joaquim.damaso@regiaodeleiria.pt