A curta passagem por Portugal do líder da Igreja Católica terá a Base Aérea nº5 como ponto central. Será onde aterra e de onde parte. Pista, zonas comuns e capela foram requalificadas para o receber.
Construída em 1948, pelo Aero Clube de Leiria, que antecedeu a criação da Base Aérea de Monte Real (BA5), a atual capela da Base Aérea serviu durante muitos anos a população da Serra de Porto de Urso, na missa dominical. Chegaram mesmo a realizar-se casamentos de locais. Hoje, o local de culto está reservado aos militares, familiares e civis que trabalham na unidade da Força Aérea.
Pela terceira vez na sua história, a capela, uma obra com traço de Korrodi, vai receber um Papa para alguns minutos de oração e tudo está a ser preparado ao pormenor para uma “visita de grande sucesso”.
Paulo VI, o primeiro papa a visitar Portugal, numa viagem que não incluiu passagem por Lisboa, recolheu-se em oração à Nossa Senhora do Ar a 13 de maio de 1967. Em 1991, João Paulo II também utilizou a Base de Monte Real para chegar a Fátima. Quando aterrou, o coronel piloto-aviador Vítor Silva disse-lhe: “Paulo VI rezou na capela da base, teríamos muito gosto que Sua Santidade fosse à nossa capela rezar”. O líder da Igreja Católica acedeu e recolheu-se em oração. Depois assinou o livro de honra da Unidade e concedeu bênção aos militares e civis.
A passagem dos dois papas na capela está assinalada à entrada, com duas placas distintas e no interior, com dois genuflexórios (bancos para orar de joelhos), devidamente identificados.
Um terceiro banco será colocado esta sexta-feira, dia 12 de maio, quando Francisco realizar a oração que pediu para fazer antes de seguir para as celebrações do centenário das aparições em Fátima.
A acompanhá-lo no interior da capela estarão militares (oficiais e praças), civis, o conselho pastoral e o coro da unidade, bem como o bispo castrense Manuel Linda. “É muito especial receber a visita do Papa Francisco. Temos uma devoção e carinho especial e recebê-lo na nossa casa, na nossa unidade, é uma alegria”, afirma o capelão da BA5 Manuel Silva.
Já em abril, vários pormenores foram afinados: pintura de paredes, arranjo de zonas verdes junto à pista, pavimentação, entre outros.
Em 1991, João Paulo II benzeu cerca de duas mil cruzes em madeira, com as inscrições “João Paulo II – /BA5/ -12/05/91”, que ficaram como símbolo da sua passagem. Agora, com Francisco, foi criada uma dezena (aro com dez contas e uma cruz para rezar um mistério) que terá uma mensagem identificativa da visita, e uma medalha alusiva ao centenário das aparições, cunhada pelas Monjas de Belém.
Tal como João Paulo II, também o Papa Francisco irá de helicóptero até Fátima – EH101, da Força Aérea Portuguesa. A viagem dura cerca de 20 minutos e será conduzida pela esquadra 751 “Pumas”, sedeada no Montijo.
No dia 12 de maio, o argentino Jorge Bergoglio chegará num avião Airbus A320 da Alitalia com o código de voo AZ 4000. A hora prevista é às 16h20.
A aeronave ficará estacionada de frente para o hangar, na placa de estacionamento, e o Papa será recebido por um coro infantil que entoará dois momentos musicais.
Está previsto que percorra a passadeira vermelha até à tribuna, onde estarão os representantes do Estado português, Força Aérea e da Igreja Católica, localizada a norte da torre de controlo. Aí acontece o Ponto de Continência ao estandarte nacional e serão entoados os hinos dos dois Estados – Vaticano e Portugal – pela Banda da Força Aérea.
Haverá ainda um momento musical com o coro da Academia da Força Aérea e Francisco subirá à placa de acesso à torre de controlo.
O único encontro agendado no primeiro dia da visita do Papa será com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, às 16h35, numa sala no edifício da torre de controlo que foi construída para o efeito. E após a oração na capela seguirá para Fátima.
O Papa Francisco já disse que vinha a Fátima como “peregrino” e por isso a visita durará menos de 24 horas. No sábado, dia 13 de maio, após o almoço com os bispos de Portugal viajará, via terrestre, até Monte Real.
Na sexta-feira da passada semana, o Santuário de Fátima confirmou que o regresso do Papa a Monte Real será realizado em carro fechado, podendo os fiéis despedirem-se de Jorge Bergoglio no troço entre Várzeas e a BA5.
Ainda assim “as pessoas vão ter uma oportunidade única de ver Sua Santidade muito perto durante alguns quilómetros e não a vão querer perder”, entende João Caldas, comandante da BA5, que considera a visita como “um marco” do seu comando na unidade.
Assim como na chegada, à partida, o Papa Francisco terá um cordão humano composto por militares e civis da BA5 a acolhê-lo, bem como uma parelha de F16 a acompanhar a aeronave onde viajará no território nacional.
Alguns números da visita
101 EH Merlin é o nome do helicóptero que irá levar Francisco a Fátima. A viagem dura 20 minutos e a aeronave, de 19,3 metros de comprimento e 6,6 metros de largura, pode atingir a velocidade máxima de 277 km/h.
22 horas e 40 minutos é o tempo que o Papa Francisco vai estar em território nacional, tendo como objetivo apenas a visita a Fátima
15 minutos demora o tempo de oração que Francisco vai realizar na capela da Base de Monte Real, cuja padroeira é Nossa Senhora do Ar.
5ª vez que a TAP irá transportar um Papa. Por norma, o voo de regresso das visitas oficiais do Papa é efetuado pela companhia aérea de bandeira do país visitado. Foi assim com o Paulo VI em 1967, o João Paulo II em 1982 e 1991, e Bento XVI em 2010.
(Reportagem publicada na edição de 13 de abril de 2017 do REGIÃO DE LEIRIA e editada)
Marina Guerra
marina.guerra@regiaodeleiria.pt
Fotografias de Sérgio Claro