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A aventura australiana do pinheiro da Mata Nacional começou há 60 anos

Há sessenta anos, ao pinheiro bravo do Pinhal de Leiria começou a ser atribuída a tarefa de reflorestar uma zona na parte ocidental da Austrália.

Há sessenta anos, ao pinheiro bravo do Pinhal de Leiria começou a ser atribuída a tarefa de reflorestar uma zona na parte ocidental da Austrália.

O Pinhal de Leiria foi relevante para os Descobrimentos, pois a madeira dos pinheiros foi a usada para a construção das embarcações. Séculos mais tarde, os pinheiros desta região empreenderam mais uma aventura além mar. É que um programa de arborização na Austrália Ocidental, escolheu o pinheiro oriundo desta vasta mancha florestal, com cerca de 11 mil hectares, que preenche aproximadamente dois terços do concelho da Marinha Grande.

Em 1957, as autoridades da Austrália Ocidental colocaram no terreno o projeto de arborização que bebeu na experiência de décadas anteriores e que apostou no pinheiro oriundo do Pinhal de Leiria. Contudo, as origens deste processo são anteriores.

Desde a década de vinte do século passado que as autoridades florestais australianas vinham ensaiando diversas opções de pinheiro. O pinheiro de Leiria “competiu” com pinheiros de outros pontos da Europa e norte de África. A qualidade e capacidade de crescimento do pinheiro proveniente de Leiria levou a melhor. E, por essa razão, foi escolhido para um amplo processo de arborização.

Desde 1942, as plantações de pinheiro “usaram sementes derivadas da floresta de Leiria”, explica um relatório publicado em 2007 pelo Instituto de Florestas da Austrália. “Testes subsequentes às sementes de Portugal, Espanha, França, Itália e Tunísia confirmaram o vigor superior das provenientes de Leiria”, revela o mesmo relatório. Aliás, a contribuição do pinheiro da Mata Nacional para este processo é frequentemente focada em estudos sobre silvicultura.

Já um estudo do Instituto de Florestas da Austrália, publicado em 1983, explicava a forma como pinheiro proveniente do Pinhal de Leiria foi aproveitado na zona ocidental da Austrália. Lembra que o programa de reprodução de pinheiro, naquela zona do país, arrancou em 1957. Antes, diversos ensaios já tinham demonstrado a superioridade das sementes provenientes desta região.

E, na década de 60 do século passado, as autoridades australianas recolheram material de alguns dos melhores pinheiros do pinhal de Leiria. Na década seguinte, foram produzidas sementes geneticamente melhoradas e a sua utilização generalizou-se. A procura de pinheiros excecionais no Pinhal de Leiria prolongou-se ao longo dos anos, resultado de um acordo com o governo português.

Em 1965 e 1966, uma intensiva pesquisa por parte de responsáveis australianos, analisou os melhores pinheiros da Mata Nacional, incidindo a atenção nas árvores com 30 a 136 anos de idade. A minúcia da pesquisa era tal que se calcula que terão sido escolhidos exemplares por cada 250 mil árvores. Entretanto, os exemplares recolhidos na nossa região foram alvo de melhoramentos na Austrália, mas não só.

O pinheiro de Leiria foi “geneticamente melhorado na Austrália Ocidental, na África do Sul e também em Portugal”, refere um estudo publicado em 2002, intitulado “Pines of silvicultural importance”. O estudo sublinha as melhorias conseguidas na capacidade de crescimento das árvores com origem nesta região. Por cá, a contribuição do pinheiro-bravo em programas de arborização além-fronteiras é conhecido.

“Os programas de arborização com pinheiro-bravo realizados noutros países”, adianta um portefólio do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) sobre a Mata Nacional, “tiveram como base o pinheiro de Leiria”. Austrália, África do Sul e Nova Zelândia, são os exemplos apontados. E qual a razão deste sucesso internacional? A “qualidade e crescimento superior”, refere ainda o documento do ICNF.

Árvore estrangeira ajuda a salvar ave nativa

Ao longo do anos, na zona ocidental da Austrália, o pinheiro bravo – “descendente” do Pinhal de Leiria – passou a fazer parte da dieta da Cacatua-preta-de-Carnaby, uma ave endémica e que se encontra ameaçada de extinção. A desflorestação e a falta de plantas que tradicionalmente faziam parte da dieta desta ave, dificultam a sua sobrevivência. De tal forma que já este ano, os ambientalistas apelaram às autoridades australianas para que impulsionassem a plantação de pinheiros, atividade que perdeu vigor nos últimos anos. “É uma situação invulgar: para salvar as aves nativas, temos de salvar árvores não nativas”, alertou, no início deste ano, o World Wide Fund for Nature. De acordo com o governo australiano, entre 2015 e 1016, foram plantados 600 hectares de pinhal para ajudar à sobrevivência da famosa catatua. 

Artigo publicado na edição impressa do REGIÃO DE LEIRIA a 7 de setembro de 2017

Carlos S. Almeida

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