Palco de campeonatos nacionais, Taças da Europa, torneios internacionais de lançamentos ou Taça dos Clubes Campeões Europeus, a pista de atletismo do Estádio de Leiria recebe, desde a sua inauguração, rasgados elogios nacionais e internacionais. Mas o cenário está a mudar. Com 14 anos de existência, o tartan está a precisar de uma intervenção urgente, fruto da utilização diária mas também de eventos não desportivos, que têm provocado danos no piso.
Marcas de rodados de viaturas, tartan gasto e abatimento do piso são alguns dos estragos mais evidentes, sobretudo nos corredores interiores da pista. A denúncia é feita por dirigentes, atletas e treinadores, preocupados com o futuro do atletismo leiriense.
“Há muitas zonas da pista em que o tartan está gasto devido à utilização diária, mas os maiores danos têm a ver com marcas de rodado de viaturas, que utilizam o espaço sem as devidas precauções. Para além disso, há várias zonas da pista em que o chão já abateu”, explica Rui Militão, vice-presidente da Associação Distrital de Atletismo de Leiria (ADAL). “Foram colocados na pista carros, aviões, camiões, palcos, …, sem qualquer cuidado e as marcas estão bem visíveis”, salienta.
Também a Associação Europeia de Atletismo e a Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) têm feito menção ao mau estado da pista nos relatórios que elaboram e publicamente. Na Gala dos 25 anos da Juventude Vidigalense (JV), Luís Figueiredo, vice-presidente da FPA, dirigiu-se a Carlos Palheira, vereador do Desporto, que tinha tomado posse há apenas uma semana, e alertou: “Senhor vereador, oiça os apelos. A pista de atletismo do estádio de Leiria precisa de uma intervenção para continuar a formar campeões”.
A JV é dos principais interessados em ver o piso arranjado. Tem perto de 300 atletas a utilizar diariamente o equipamento “Nota-se desgaste, acelerado e agravado, por ‘multiusos’ dados à pista e que lhe impõe uma taxa de esforço superior àquela para a qual foi concebida”, afirma Tatiana Fernandes, presidente da JV.
“Minorar algumas mazelas com intervenções locais, como que remendos”, tem sido a solução mas a responsável entende que é preciso “olhar para a renovação da pista como um investimento”.
Cooperação entre eventos
Contactado pelo REGIÃO DE LEIRIA, Carlos Palheira assegura que os alertas “fazem sentido” e que a autarquia se prepara para intervir. “Não nos podemos esquecer que a pista tem 14 anos e naturalmente se regista um desgaste natural do equipamento”, diz.
“Qualquer equipamento, sem manutenção e reabilitação, com o passar dos anos, perderá qualidades” e Leiria não é exceção. É para manter o título de “uma das melhores pistas de atletismo da Europa” e assegurar a formação desportiva dos atletas do concelho que a autarquia pretende intervir.
Sem data ainda definida e sem revelar valores de investimento, a Câmara de Leiria revela que está a “equacionar o timing” para a intervenção em articulação com os agentes desportivos. A reparação pode passar pela substituição integral do tartan, o que obriga a “maiores constrangimentos na utilização não só da pista mas do próprio estádio”, ou pelo “re-topping”, uma substituição da camada superficial da pista em que o tempo de paragem ronda as duas semanas.
Para a ADAL, a segunda opção, “menos dispendiosa”, pode não ser suficiente, sobretudo nas zonas onde o chão abateu. “Aí haverá certamente a necessidade de uma intervenção mais profunda”, diz Rui Militão.
“O Estádio Municipal de Leiria é o melhor espaço do país e um dos melhores da Europa para albergar competições nacionais e internacionais de atletismo. Contudo, se não for feita qualquer intervenção, não poderemos continuar a acolher essas competições”, considera.
E realça: “Se for requalificada mas não houver cuidado na sua preservação, aquando da realização desses grandes eventos, daqui por uns tempos voltaremos a estar confrontados com os mesmos problemas”.
Independentemente da solução adotada, Carlos Palheira acrescenta ainda que os eventos realizados no estádio, extra competições desportivas, “são de grande relevância para Leiria”. “É possível e desejável a existência de uma cooperação entre os eventos desportivos e culturais, de forma a rentabilizar o estádio e colocá-lo à disposição de todos os leirienses”, afirma.
Centro de Lançamentos recebe nova gaiola
Leiria recebe em março do próximo ano a Taça da Europa de Lançamentos. O evento vai trazer centenas de atletas à região e decorrem no Centro Nacional de Lançamentos de Leiria, junto à ponte Euro2004.
Tal como acontece com o estádio, também a infraestrutura começa a revelar sinais de desgaste. A gaiola principal tem mazelas próprias da frequente utilização e a pista de balanço do lançamento do dardo está deteriorada. “Há atletas que chegam ao ponto de não a querer utilizar”, diz uma fonte ao REGIÃO DE LEIRIA.
A aquisição de uma nova gaiola de lançamentos vai acontecer nos próximos meses, a tempo da competição, garante a Câmara de Leiria, explicando tratar-se de um investimento que deverá rondar os 17 mil euros.
Abatimento do piso, marcas de rodados ou desgaste do tartan são alguns dos exemplos de danos na pista de atletismo, causados quer pela utilização contínua, quer pela ausência de medidas de proteção do piso, durante a realização de eventos como o Leiria sobre Rodas ou o Leiria Dance Floor
(Notícia publicada na edição de 30 de novembro de 2017 do REGIÃO DE LEIRIA)
Marina Guerra
Jornalista
marina.guerra@regiaodeleiria.pt