A dança é uma das novidades nos Concertos com História de 2018
O mundo inspira um Orfeão de portas abertas
Os renovados Concertos com História viajam a partir de Leiria até à Rússia, Ucrânia e Chile. É o resultado da aposta do Orfeão de Leiria no cruzamento de culturas do projeto Abraç’Artes
Tatiana Gurskaya ri-se quando lembra o que a maioria das pessoas em Portugal sabe da sua Rússia: “Que é um país grande e frio. Mais nada!”. Há nove anos a viver em Leiria, ela é uma das entusiastas do projeto intercultural Abraç’Artes, que o Orfeão de Leiria está a dinamizar e que amanhã, sexta-feira, dia 2 de fevereiro, se revela em forma de música e dança nos Concertos com História.
O serão no Centro de Diálogo Intercultural de Leiria é de descoberta da cultura, tradições e até da gastronomia da Rússia. Leiria vai saber um pouco mais sobre o país de Tatiana, cuja filha canta no coro e aprende órgão no Orfeão.
“Esta ideia é muito boa. As pessoas não sabem que tem muita história e que é muito importante na música, no ballet, na dança”, sublinha Tatiana Gurskaya. Ela participou ativamente nas reuniões que o Orfeão tem feito, semanalmente, com a comunidade imigrante de alunos, pais e amigos.
Nesses encontros, onde o grupo troca ideias, partilha músicas e prepara os Concertos com História, surgem surpresas. “Descobrimos que uma das mães tem formação superior em piano, mas não está reconhecida”, conta o diretor pedagógico do Orfeão de Leiria, Mário Teixeira. Surpresa também foi identificar alguém que toca bandura, instrumento da Ucrânia parecido com a harpa, que deve ouvir-se no dia 2 de março.
Já neste primeiro concerto, toca uma camerata, formada por três flautas transversais, dois violinos e uma tuba. E a dança terá papel importante.
Vitória Goyvanyuk, 14 anos, é uma das bailarinas que estará no primeiro destes renovados Concertos com História. “As danças russas não são muito difíceis. Mas requerem resistência. Salta-se muita e sempre de nariz levantado!”, conta a ucraniana de 14 anos.
Vitória é filha de pais ucranianos nascida em Portugal. “Penso em português, falo ucraniano e português mas o meu coração está na Ucrânia”. Ela, que vestirá os trajes criados com a ajuda de Tatiana, elogia a iniciativa do Orfeão:
“É bastante interessante. Há bastantes imigrantes em Portugal e conhecer novas culturas é divertido”. Além disso, “é especial que haja pessoas que se interessam com a minha cultura e a dos meus pais”.
“Maslenitsa, a despedida do inverno” é o tema para a noite de sexta-feira. Haverá intervenções em russo e português, com informações sobre a cultura russa. Também se vai cantar em russo, um desafio para os alunos portugueses.
No Orfeão, além ucranianos e russos, há ainda brasileiros, egípcios, bielorrussos e até um chileno, que inspirará o derradeiro concerto. O projeto Abraç’Artes, durará três anos. Com os Concertos com História e outras iniciativas, o Orfeão espera envolver mais estrangeiros.
“Através de outros agrupamentos de escolas, queremos ir à procura de mais famílias para alargar o projeto e o levarmos mais longe”, sublinha o diretor pedagógico.
Noutro sentido, a “internacionalização” dos Concertos com História é também, neste oitavo ano de existência, uma grande mudança no conceito. “Vai ser uma boa surpresa, com mais diversidade e interatividade com o público”, explica Mário Teixeira.
Desta abertura aos estrangeiros esperam-se consequências. Mário Teixeira nota que as comunidades que vêm para Portugal “muitas vezes vivem muito só nessa comunidade” e, assim, “podem perceber que há aqui no Orfeão de Leiria uma porta aberta”.
Manuel Leiria
Jornalista
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt
Joaquim Dâmaso
Fotojornalista
joaquim.damaso@regiaodeleiria.pt
Momento do ensaio da classe de dança, que prepara um número especial para os Concertos com História, a partir da tradição russa
Programa
2 de fevereiro
A Rússia é o país em destaque no novo formato dos Concertos com História. “Maslenitsa, a despedida do Inverno” é o tema escolhido
2 de março
“Trigo, a tradição da terra” inspira o concerto dedicado à tradição cultural da Ucrânia
4 de maio
O Chile aproxima-se de Leiria no terceiro concerto do ciclo, com um programa dedicado a “Mapuche, a origem do povo”
Todos os concertos no Centro de Diálogo Intercultural de Leiria (Igreja da Misericórdia), com início às 21 horas e entrada livre