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Sociedade

Malária trava Rui Daniel Silva mas o professor de piano promete que aventura até ao Bangladesh vai continuar

No princípio sentia muito frio e tremia bastante. “Mas o pior foi quando desmaiei e deixei de ver”, recorda Rui Daniel Silva. Era malária.

Serra Leoa

Rui Daniel Silva no Mali: entre a simpatia com que é recebido e a violência nas capitais, a aventura em África tem sido repleta de contrastes

No princípio sentia muito frio e tremia bastante. “Achava que era da diferença de temperatura”, conta Rui Daniel Silva, que tinha vindo a Portugal passar o Natal, numa curta interrupção da viagem até ao Bangladesh. Passou 15 dias assim, mas pensou sempre que se estava a adaptar ao inverno do hemisfério norte. “Mas o pior foi quando desmaiei e deixei de ver”. Era malária.

O professor de piano do Orfeão de Leiria, que pediu uma licença sem vencimento para cumprir a incrível viagem entre Leiria e o Bangladesh a pé, de bicicleta e à boleia, teve assim de interromper a aventura. Tinha já chegado ao Níger, depois de percorrer toda a África Ocidental. Nos últimos tempos, atravessou a Libéria, Costa do Marfim, Mali e Burkina Faso. No Níger apanhou o avião para Portugal, para passar o Natal com a família, para depois retomar a viagem a partir de lá. 

Viajante experimentado, Rui Daniel Silva arriscou noutras viagens, mas nesta bem pelo contrário. “Nunca apanhei nada e há quatro anos e no ano passado, fui para África de bicicleta sem vacinas nem nada… Estive na Amazónia e noutros países onde podia ter apanhado e nada. Agora, que fiz tudo certo, com vacinas e medicação, apanhei malária!”.

Sem explicação para o sucedido, Rui Daniel Silva acredita que foi no Burkina Faso que contraiu a doença. “Creio que apanhei quando estava com a tribo Cassena e dormia ao ar livre…. Lembro-me de haver realmente imensos mosquitos e a malária apanha-se através dos mosquitos”.

Apesar de estar debilitado, após dois internamentos em Portugal, está deserto por voltar a África. “É realmente um continente à parte. Gosto de estar perdido perdido no meio das tribos, mesmo que não entenda a língua deles. Nesses sítios encontramos pessoas realmente bastante puras”.

Nestes meses, e descontando a malária, nem tudo foi fácil. “As capitais são sem duvida para esquecer. Existe imensa criminalidade e assisti a imensas coisas… Mas como sou meio ‘cromo’ e gosto de me perder, acabou por correr por vezes mal… A partir dai comecei a ter mais atenção”.

Na Serra Leoa, por exemplo, foi encurralado por um grupo. “Acabei por ter sorte porque um tipo mandou-me embora imediatamente, antes que algo corresse mal”.

Na Libéria encontrou pessoas agressivas. “Odiei. Uma vez começaram a bater-me nas mãos enquanto me tentavam enganar, fazendo-se passar por polícia da emigração. Era uma treta”.

Também na Costa do Marfim, deparou-se com uma tentativa de assalto. “Um bando de jovens saltou no meio do nada para o meio da estrada para assaltar o autocarro… O condutor acelerou e foi em frente”.

E no Mali? Rui Daniel admite que andou “onde nunca devia ter andado”, a ponto de, a meio da viagem para Djenne, onde queria visitar uma mesquita, o autocarro parar e toda a gente ser obrigada a sair. “Tivemos de passar ali a noite por causa dos rebeldes. Não podíamos avançar durante a noite… E assim foi… Dormi ao relento com os nativos na beira da estrada e saí no dia seguinte”.

Após ouvir relatos de raptos na zona, seguiu um conselho de um jornalista francês e foi para o Burkina Faso, onde – tal como no Mali – diversas viagens tinham de ser feitas com escolta militar por causa dos assaltos.  “Mas o Burkina Faso foi onde encontrei dos povos mais simpáticos… Andava de aldeia em aldeia, a conhecer tribos e a dormir com eles”

Mas foi no Níger, um país onde lhe tinham desaconselhado ir, “foi onde fui melhor recebido”.

“O resto é realmente perigoso neste momento, já que se encontra a norte com a Líbia e a Este com a Nigéria, onde se encontra o grupo  radical islâmico Boko Haram. Mas sem duvida que os muçulmanos são os mais acolhedores de todos…”

Apesar de ainda estar a restabelecer-se, Rui Daniel já sonha em voltar a viajar. “Quando estiver melhor vou voltar para o Togo e daí para o Benin, Nigéria, Camarões… E aí depois logo se vê”. Na República Centro Africana, onde queria ir, dificilmente conseguirá entrar, devido à guerra. “Vou ter de descer pelo Gabão, Congo, Angola… Não stresso muito com isso”.

Rui Daniel Silva quer é ficar bem e voltar à rota que traçou para chegar ao Bangladesh. “Isto vai atrasar os planos, mas a malária deu para perceber que é mesmo importante fazer o que se quer. De um dia para o outro não estamos cá…”.

 

“Alma de Viajante” coloca Instagram de Rui Daniel Silva nos 25 portugueses a seguir

O mais antigo blogue de viagens nacional, “Alma de Viajante”, selecionou os 25 melhores instagrammers de viagens portugueses. Entre eles está o de Rui Daniel Silva, considerado “um viajante hard-core que vale a pena acompanhar também no Instagram”. 

Em setembro Rui Daniel Silva partiu de Leiria com destino ao Bangladesh. A viagem solidária, a favor das crianças de Dhaka, pelas quais trabalha a Fundação Maria Cristina, deveria durar cerca de um ano, durante o qual o professor de piano percorrerá qualquer coisa como 40 mil quilómetros. Agora, recupera em Portugal de malária, que contraiu em África. Na fotogaleria ao lado, algumas imagens dos países visitados nas últimas semanas: Burkina Faso, Mali, Serra Leoa, Costa do Marfim e Níger.

Manuel Leiria
Jornalista
manuel.leiria@regiaodeleiria.pt


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