Se surfar as ondas gigantes da Nazaré é uma missão só para os Bond do surf, imagine andar 25 metros em cima de uma corda, com as ondas a rebentar lá em baixo.
O desafio, radical, foi cumprido pela terceira vez, em janeiro, por um grupo de slackliners chamado Western Riders. A modalidade, slackline, consiste em fazer travessias sobre cordas bambas. No caso da travessia sobre a água, como acontece na Nazaré, denomina-se highlining.
“Fomos pela primeira vez à Nazaré, em fevereiro de 2017, a convite de um surfista de grandes ondas, Andrey Karr, que na altura estava a começar a fazer slackline e teve a ideia de montar a fita por cima da água”, conta Cláudio Dores, um dos quatro elementos do grupo. Sem material nem conhecimento suficiente para fazer a travessia entre as duas extremidades, o surfista convidou os Western Riders a juntarem-se a ele.
O desafio foi aceite e a equipa esticou a corda entre o penhasco da Praia do Norte e a Pedra do Guilhim, cumprindo a travessia. Regressaram em dezembro passado para nova sessão e não passaram despercebidos a quem passeava junto ao Forte de S. Miguel Arcanjo. Repetiram-no em janeiro passado.
“Em Portugal há muito pouca gente a fazer este desporto. Nós formamos o coletivo com o intuito de mostrar a nossa paixão e promover o highline”, explica.
Naturais de Cascais e Sintra, passam bastante tempo a praticar no Cabo da Roca e por ser o western most point da Europa, deu nome ao coletivo: Western Riders. Sagres e Lousã são outros dos locais onde praticam este desporto radical, bastante difundido na Europa, “mas nenhum tem o fator das ondas como se vê na Nazaré”.
Ao Cláudio Dores, de 33 anos, José Ferreira, de 34 anos, e Pedro Domingos “Pêpê”, de 23 anos, juntou-se Emerson Machado, de 28 anos, natural do Brasil e que se encontra a residir atualmente na Nazaré. É ele um dos protagonistas do vídeo imensamente partilhado nas redes sociais.
Nesta “loucura” nada é feito ao acaso. O projeto foi cautelosamente preparado pelos highliners, em coordenação com a Capitania da Nazaré. “A segurança é posta sempre em primeiro lugar. Todo o material envolvido é testado e certificado através de normas europeias, muito semelhante ao que acontece na escalada”, justifica.
Também Emerson Machado realça que “é um risco calculado”. “Não somos loucos como pode parecer à primeira vista, na realidade, tudo foi planeado ao mínimo detalhe”, “por uma equipa experiente, trabalhando em conjunto com organização e cautela”, acrescenta.
Depois é preciso respirar fundo e avançar, pé após pé, ao longo dos cerca de 25 metros que separam a Pedra do Guilhim ao penhasco do Forte. “Quando estamos a caminhar, o equilíbrio é fundamental. Estamos seguros por uma corda de segurança e um arnês, para o caso de cairmos, por exemplo, com a força das ondas, como aconteceu”, afirma.
É precisamente pela intensidade das ondas que fazer slackline na Nazaré se torna tão desejado. “É um lugar único”, explica ao REGIÃO DE LEIRIA. “As ondas fazem vibrar toda a rocha envolvente e, muitas vezes, ao embater na rocha, ressaltam contra quem está na fita, fazendo-o cair”, diz.
O momento é vivido ao máximo e difícil de explicar a quem está de fora, admite o coletivo, que pretende continuar a praticar o desporto na Nazaré e está disponível a envolver outros Bond das cordas nas atividades.
(Artigo publicado na edição de 15 de fevereiro de 2018)
Marina Guerra
Jornalista
marina.guerra@regiaodeleiria.pt