Miguel Franco no Teatro Maria Matos, na estreia de “A Legenda do Cidadão Miguel Lino”, em 1975 Foto: Espólio Miguel Franco
Manuel Leiria
Jornalista
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Espólio Miguel Franco
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Em Leiria Miguel Franco é nome de sala de espetáculos mas poucos sabem, já, em 2018, quem foi. Os que se recordam, lembram um homem apaixonado por teatro, incansável na promoção da cultura e irrepreensível ator.
No dia 14 de abril, Miguel Franco (1918-1988) completaria cem anos, se fosse vivo. Por iniciativa da filha, a pintora Maria João Franco, com a ajuda de alguns amigos e o apoio do município de Leiria, acontece uma festa de homenagem ao encenador e ator, num programa que se prolonga durante os próximos meses e que pretende lembrar e perpetuar o trabalho do ator, encenador e dramaturgo.
Para Maria João Franco, “era imperdoável não lembrar a figura de Miguel Franco”. “Não por ser o meu pai, mas porque foi uma das pessoas intelectualmente mais importantes de Leiria”, sublinha.
Miguel Franco foi ator, encenador, criou grupos de teatro, promoveu sessões culturais, escreveu para jornais e teve um papel importante no Novo Cinema Português, nos anos 60 e 70.
Antes do 25 de Abril, em 1963, lançou “O motim”, considerada a sua grande obra, descrevendo a revolta do povo do Porto contra a criação da Companhia de Vinhos do Alto Douro: o livro foi censurado e a peça proibida de ir a palco.
Nos últimos meses, Maria João Franco e dois amigos mergulharam no espólio de 1.700 documentos relativos a Miguel Franco para contar a história da vida e obra do homem que mostrou gosto pelo teatro desde muito novo e que se destacou também na dramaturgia histórica, levando o teatro ao património nacional: são emblemáticas peças suas no Castelo de Leiria, Mosteiro de Alcobaça e Convento de Cristo, em Tomar.
Em 1985 representou o último papel, numa peça do TELA – Teatro Experimental de Leiria, dirigido por Carlos Fragateiro.
Maria João Franco, que mantém um blogue dedicado ao pai, espera contribuir, com o programa preparado, para que haja “mais pessoas sensibilizadas para o trabalho dele”: “É uma oportunidade única para conhecer Miguel Franco”.
A festa de aniversário
A comemoração do aniversário de Miguel Franco arranca este sábado, dia 14 de abril, dia em que o ator completaria cem anos. No Teatro Miguel Franco, em Leiria, a partir das 15h30, a cerimónia contempla intervenções de Maria João Franco e de Hélder Costa, dramaturgo, encenador e ator.
Será ainda exibido o documentário biográfico de Miguel Cardoso sobre o ator e haverá momento musical pelo Coro do Orfeão de Leiria.
À noite, tem início o ciclo de cinema (sempre em película e sempre no Teatro Miguel Franco) dedicado ao ator, uma programação que prossegue até julho e que detalhamos em baixo.
Mais tarde no ano, a 29 de setembro e 8 de outubro, o texto de Miguel Franco, “A legenda do cidadão Miguel Lino”, terá duas leituras encenadas no Centro de Diálogo Intercultural de Leiria (Igreja da Misericórdia), por Luís Mourão e outros atores convidados.
Para novembro está agendada a inauguração de uma exposição biográfica sobre Miguel Franco, na Galeria Manuel Artur Santos, no Mercado de Santana.
Ciclo recorda filmografia
Miguel Cardoso, realizador, produtor e amigo de Miguel Franco, selecionou os filmes que nos próximos meses vão dar a conhecer o ator num ciclo no Teatro Miguel Franco, precisamente. Miguel foi, com Graça Teixeira, fundamental no trabalho de preparação da programação de homenagem, sublinha Maria João Franco.
Além da pesquisa que fez e do documentário biográfico que realizou, é testemunha directa do trabalho de Miguel Franco, que conheceu em 1971, no primeiro filme em que trabalhou a nível profissional, como assistente de produção, “Lotação esgotada”, realizado por Manuel Guimarães.
“Depois de ter trabalhado com Miguel Franco, todos os filmes em que eu trabalhei e o pude ir chamar, chamei. A qualidade que ele tinha como ator é rara em Portugal. Era um actor nato”, conta Miguel Cardoso, que destaca “a capacidade de interpretação e de desempenho de diferentes personagens”.
A cada filme de Miguel Franco que analisou para o documentário, Miguel Cardoso viu “apenas a personagem que ele está a representar. Miguel Franco apaga-se e isso é uma qualidade rara num ator”.
Por isso mesmo, o ator de Leiria, foi sendo sucessivamente convidado a trabalhar com algumas das principais referências do cinema em Portugal, sobretudo realizadores ligados ao Novo Cinema Português.
Miguel Franco entrou em filmes de Manuel Guimarães, António Cunha Telles, António de Macedo, Luís Filipe Rocha, entre outros. Mas não só: a sua filmografia inclui a participação em filmes estrangeiros, em que Miguel Cardoso interveio, como “Reina a Tranquilidade em Todo o País” (1975), do alemão Peter Lilienthal, rodado em Setúbal, e “The assignement” (1976), filmado no Alentejo pelo sueco Mats Arehn.
O ciclo começa com filmes, “O tesoiro” e “O senhor”, que lançaram o também leiriense António Campos na produção de cinema. São duas curtas de ficção, a partir de contos de Loureiro Botas e de Miguel Torga, em que Miguel Franco faz encenação, direção de atores e ainda os papéis principais.
Até julho, são projetados diversos filmes, com destaque para “O cerco”, de António Cunha Teles, “considerado um dos acontecimetnos da nova vaga do cinema português”. Franco desempenha o papel principal no filme, que foi selecionado para os festivais de Cannes e San Sebastian.
Os filmes a exibir no Teatro Miguel Franco chegam através da Cinemateca, em película, como foram filmados. Para Miguel Cardoso, é a oportunidade para (re)descobrir Miguel Franco: “A qualidade dele, a mim, continua a impressionar”.
14 de abril, 21h30
“O tesouro” (1958) e “O senhor” (1959), de António Campos
14 de maio, 21h30
“O Crime de Aldeia Velha” (1964), de Manuel Guimarães. Trailer
29 de maio, 21h30
“Domingo à tarde” (1965), de António de Macedo. Trailer
12 de junho, 21h30
“O cerco” (1969), de António da Cunha Telles. Trailer
26 de junho, 21h30
“Lotação esgotada” (1972), de Manuel Guimarães
3 de julho, 21h30
“A fuga” (1977), de Luís Filipe Rocha
10 de julho, 21h30
“O Rei das Berlengas” (1978), de Artur Semedo. Trailer
17 de julho, 21h30
“A culpa” (1980), de António Vitorino de Almeida. Trailer
24 de julho, 21h30
“Manhã Submersa” (1980), de Lauro António. Trailer
28 de julho, 21h30
“Vidas” (1983), de António da Cunha Telles, no dia do aniversário da inauguração do Teatro Miguel Franco. Trailer