Todas as semanas há direito a um passeio pela cidade. Um grupo de estudantes do Colégio Nossa Senhora de Fátima, em Leiria, sai das instalações da escola para observar as aves que vivem na cidade e têm o rio como local de eleição.
Esta semana, o Clube de Observação de Aves foi surpreendido com a presença de uma gaivota no rio Lis, junto ao antigo hospital de Leiria. Entre as dezenas de espécies de aves que vivem na cidade, esta não é comum. “Deverá ter-se desorientado”, explica José Artur, professor de Ciências Naturais e responsável pelo clube. As gaivotas são frequentes na costa e voam em grupo, o que não se verifica neste caso.
Ao contrário do que acontece com João Mourinho e Fernando Piedade, na foz do Lis, os alunos não precisam de se camuflar para observar as aves. Os animais estão habituados ao movimento, barulhos e agitação típicas de um centro urbano e a presença de humanos não os afasta.
Melro, guarda-rios, garça-real, pato, andorinhão, alvéola, pombo torcaz, pega, bico de lacre, felosa comum, estrelinha real, felosa musical, corvo marinho de faces brancas, chapim azul, galinha de água, andorinha das barreiras e garça branca pequena são algumas das aves que são possíveis de avistar e que vão variando consoante a época do ano.
“Esta é a melhor altura. Estamos numa época de transição, do inverno para o verão e ainda existem aves que ainda não foram embora e outras que estão a chegar e já se observam. Por exemplo, os lugres, que não vêm todos os anos, este ano ficaram até muito tarde e era giro vê-los com outras aves”, refere o docente.
O Lis, rico em água doce, está na rota da migração das aves e o número de espécies tem aumentado de ano para ano. Muitas delas ficam no rio durante todo o ano e até nidificam por cá. “Há um goraz, ainda não consegui confirmar se são dois, que já nidifica no rio e é bastante ativo durante o dia, o que não deixa de ser engraçado porque se trata de uma garça noturna”, diz.
No ano passado, o Clube de Observação de Aves avistou um mergulhão. Este ano ainda não apareceu. Já a garça real marca presença no rio durante todo o ano e já existe um juvenil.
“Embora a qualidade da água do rio não seja das melhores, noto que, de ano para ano, o número de aves e de espécies aumenta, o que é muito bom”, salienta. No caso dos guarda-rios, refere, a quantidade “é impressionante”, comparativamente com o número de exemplares que existiram há alguns anos.
Sensibilizar, preservar e dar a conhecer as espécies que existem no meio onde estão inseridos são os objetivos do clube. O docente acredita que é mais eficaz falar das aves que existem na cidade do que de animais selvagens que só se conhecem nos livros.
A observação de aves é uma atividade que tem cativado cada vez mais pessoas em Leiria. José Artur acredita que esta tendência começou após a introdução de patos no rio. “Foi um grande passo que se deu. As pessoas olham para as aves com mais atenção e acompanham os seus comportamentos”, afirma.
No início do ano, conta, outro “fenómeno engraçado” despertou a atenção dos leirienses. “As garças boieiras, pequenas e brancas com bico amarelo, que dormem nas margens do rio e de manhã dispersam, vinham para a rotunda da Grelha e para o Centro de Lançamentos alimentar-se dos invertebrados. Os carros passavam e elas não se incomodavam. Foi fantástico”, diz o aficionado da observação da natureza.
(Artigo publicado na edição de 17 de maio de 2018)
Marina Guerra
Jornalista
marina.guerra@regiaodeleiria.pt