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Artigo de cientista de Leiria na revista Science revela pistas para travar febre amarela

Um estudo de Nuno Faria, jovem cientista de Leiria, investigador da Universidade de Oxford (Reino Unido), sobre o grande e recente surto de febre amarela do Brasil, é publicado esta quinta-feira na revista Science. “Os resultados têm o potencial de contribuir para uma estratégia de eliminação do vírus (YFV) a nível global”, adianta a universidade britânica.

Nuno Faria (ao centro) com a equipa  em Belo Horizonte, no Brasil 

Um estudo de Nuno Faria, jovem cientista de Leiria, investigador da Universidade de Oxford (Reino Unido), sobre o grande e recente surto de febre amarela do Brasil, é publicado esta quinta-feira na revista Science. “Os resultados têm implicações na monitorização da transmissão viral e têm o potencial de contribuir para uma estratégia de eliminação do vírus (YFV) a nível global”, adianta a universidade britânica.

Nuno Faria compara a progressão dos surtos por doenças infeciosas aos incêndios. E com as suas descobertas, abrem-se caminhos para que, no caso da febre amarela, não lavrem descontrolados.

Esta investigação “trouxe uma nova luz sobre o recente surto de febre amarela no Brasil e sobre como o vírus se dissemina”, adianta, em comunicado, a Universidade de Oxford. “Os resultados têm implicações na monitorização da transmissão viral e têm o potencial de contribuir para uma estratégia de eliminação do vírus (YFV) a nível global”, acrescenta.

 “Os surtos causados por doenças infeciosas são como a fase da ignição de um fogo – quanto mais cedo conseguirmos extinguir um incendio, maior as chances de contermos a sua progressão”, explica ao REGIÃO DE LEIRIA Nuno Faria.

O cientista de Leiria é o primeiro autor do artigo, “Genomic and epidemiological monitoring of yellow fever virus transmission potential”, publicado em destaque na edição de hoje da Science e é o resultado de um esforço com o Ministério da Saúde do Brasil, Pan American World Health Organization e várias outras instituições do Brasil, Reino Unido e Estados Unidos da América.

Atualmente, a vacinação permanece como a única forma de prevenir a transmissão da doença. Tal como nos incêndios, a vigilância é essencial para definir prioridades na vacinação. “Precisamos de uma vigilância coordenada e sincronizada de populações humanas, primatas não humanos e vetores”, refere Nuno Faria.

Doenças como Zika Ébola estão entre as que têm colhido resultados dos mais recentes avanços no âmbito da “revolução genómica”, mas o mesmo não acontece com a febre amarela, refere o investigador de Leiria. Todavia, o trabalho da equipa de Nuno Faria resultou no desenvolvimento de um novo método.

No artigo, “descrevemos um novo método para gerar genomas de vírus localmente em menos de 48 horas”, refere. Nessa tarefa é utilizado um “aparelho portátil que cabe na palma da mão”. Nuno Faria explica que até há cerca de uma década “este processo era demoroso, caro e apenas se podia fazer em poucas instituições no mundo”.

Já as ferramentas genómicas e as epidemiológicas desenvolvidas neste estudo, “podem facilmente ser disponibilizadas nos laboratórios centrais de saúde publica para otimizar estratégias de combate a epidemias futuras de febre amarela ou outros vírus em tempo-real”, salienta.  A análise de diversidade genética permite igualmente perceber melhor as rotas de transmissão do vírus.

No caso de surtos de febre amarela, explica o cientista, “podemos antecipar a transmissão do vírus e conter a progressão da doença usando medidas preventivas como a vacinação de grupos que vivem/trabalham em zonas de risco de febre amarela”. 

 

Um vírus que se desloca a 3,3 kms por dia

O trabalho do investigador de Leiria e da sua equipa permite reconstituir a rota do vírus que resultou no surto de febre amarela, o maior dos últimos cem anos, registado no Brasil entre 2016 e já este ano.

Terá sido o resultado de “uma introdução de uma estirpe de febre amarela que veio, em última análise, da região Amazónica, onde o vírus circula silenciosamente”. Depois de introduzido em Minas Gerais em julho 2016, explica Nuno Faria, “o vírus espalhou-se rapidamente em populações locais de mosquitos silvestres e primatas não humanos a uma velocidade media de 3,3 quilómetros por dia”.

O vírus alastrou a sua ação em direção às grandes metrópoles de São Paulo e Rio de Janeiro, “possivelmente resultado do transporte de mosquitos infetados em camiões e/ou de tráfico ilegal de primatas não humanos”.

A equipa de Nuno Faria acabou por concluir que os casos de febre amarela incidiram em “indivíduos predominantemente do sexo masculino, na maioria trabalhadores rurais com atividades ocupacionais que viviam em média a cinco quilómetros de áreas florestadas”. Infelizmente, refere, “não tinham sido vacinados”.

 

Carlos S. Almeida
Jornalista
carlos.almeida@regiaodeleiria.pt

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