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Existência de ninhos de vespa asiática aumenta na região

Espécie foi identificada pela primeira vez na região em 2015 mas os avistamentos não param de aumentar. Apicultores falam em quebra de 15% da produção de mel e mais custos por colmeia

“Pelotão… Formar…”, “Pelotão, bater asas”. Não sabemos comunicar com as abelhas nem se é através de ordens militares que as criadoras do mel no Japão estão a conseguir contrariar a entrada das vespas asiáticas nas colmeias. Mas tem sido pelo bater das asas que a “praga” da vespa de patas amarelas, como também é conhecida, a vespa velutina, tem sido combatida a Oriente.

Quando a vespa entra na colmeia, as abelhas conseguem subir ou descer a temperatura de uma colmeia de forma natural com o bater de asas e toleram temperaturas até 44º graus centígrados. Já a vespa, com o dobro do tamanho, mandíbulas, e um ferrão que dura toda a vida, morre quando a temperatura chega aos 43º graus. O combate parece fácil de fazer mas o processo demorou algum tempo até começar a ter efeito no Japão.

Por cá, as abelhas portuguesas ainda não praticam este exercício de asas e a presença de vespa asiática começa a ganhar dimensão na região.

Os primeiros avistamentos da espécie exótica invasora foram registados em Portugal em 2011. No distrito de Leiria, os primeiros dados reportam a 2015 e até janeiro de 2018, foram identificados seis ninhos de vespa asiática, segundo o Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da Vespa velutina em Portugal.

O cenário, agora, é bem diferente. No ano de 2018, a plataforma SOS Vespa identificou 169 ninhos, 78 dos quais nos últimos três meses. O panorama é idêntico no concelho de Ourém: 28 ninhos e 6 avistamentos registados em 2018, 29 dos casos no último trimestre de 2018.

A propagação da espécie pelo território nacional têm aumentado a cada mês, de norte para sul, e a região de Leiria começa a ser engolida por este vespeiro de patas amarelas.

As autarquias têm trabalhado com corporações de bombeiros ou empresas especializadas na remoção dos ninhos, sempre que algum caso é identificado, casos de Ourém e Marinha Grande.

No concelho de Leiria, nos últimos três meses, a autarquia eliminou 90 ninhos de vespas asiáticas, revelou a vereadora Ana Esperança, na passada terça-feira, em reunião de executivo.

Dados referentes ao final do ano de 2018, segundo a autarquia, davam conta de um registo maior de casos na União de Freguesias de Leiria, Pousos, Barreira e Cortes e na União de Freguesias de Colmeias e Memória.

Álvaro Madureira, vereador do PSD da Câmara de Leiria, questionou a maioria quanto à eficácia do combate a esta espécie
Considerando tratar-se de um “problema económico, ambiental e de segurança”, sugeriu entre outras medidas a realização de sessões de esclarecimento nas freguesias, o aumento de meios e equipas especializadas, a produção de relatórios mensais e criação de uma base de dados com georreferenciação da localização destes ninhos.

Apesar de não ser “individualmente mais agressiva para o ser humano do que a vespa europeia”, a espécie “reage de forma bastante agressiva às ameaças ao seu ninho”. Por exemplo, “perante uma ameaça ou vibração a cinco metros”, o vespeiro “produz uma resposta de grupo que pode perseguir a fonte da ameaça durante cerca de 500 metros”, explica Carlos Guerra, comandante operacional distrital da Proteção Civil.

O tamanho da vespa asiática, mais do dobro da abelha, também pode assustar.

Quebra na produção
Em Pombal, a autarquia procedeu à aquisição de material próprio para a remoção de ninhos. Quando alertado, uma equipa de Sapadores florestais, desloca-se ao terreno para validação de cada comunicação rececionada. “Simultaneamente é realizada uma análise individual dos ninhos, considerando o perigo potencial para a população, humana e apícola”, explica o município.

Pombal é o concelho da região com mais casos identificados em 2018. Seguem-se Castanheira de Pera, Ansião, Pedrógão Grande e Alvaiázere e Leiria, mas estes números alteram todos os dias na plataforma SOS Vespa.

No entanto, muitas das situações não ficam registadas. Por exemplo, quando em dezembro passado, o REGIÃO DE LEIRIA elaborou este trabalho, a Câmara de Leiria referia a existência cerca de 50, quando a plataforma só mencionava três casos.

Na Marinha Grande não aparecia nenhum mas a autarquia dava conta de nove e, na semana passada, emitiu num comunicado identificando 12 ninhos. Ou seja, o número será bem superior.

Em Pombal, a “grande maioria [dos ninhos] está em árvores, sendo a localização mais comum. Também foram reportados casos da existência de ninhos em alguns anexos de habitações e, num caso particular, numa toca, no chão”, referiu a autarquia, acrescentando que 38 foram destruídos.

Mas se não existe um perigo direto para os humanos, no caso da apicultura, o impacto é muito maior. Um exemplar da vespa velutina pode matar mais de 30 abelhas por minuto. Informação divulgada pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), refere que se um grupo de cinco entrar numa colmeia, pode matar milhares em apenas uma hora.

A presença deste predador, informa a Associação de Apicultores da Região de Leiria, Ribatejo e Oeste (AARL), aumentou no período do verão e outono. “O apicultor está obrigado a diferentes técnicas de maneio assim como a gastos suplementares com alimentação, materiais e iscos para armadilhas, deslocações suplementares ao apiário para dar assistência às abelhas. Além disso, a pressão/predação pode fazer baixar a produção em cerca de 15%. Estimamos que os custos por colmeia se situem nos 12 euros”, salienta a direção da AARL.

Outra consequência indireta traduz-se na diminuição das atividades das abelhas e num enfraquecimento e morte da colmeia, o que gera uma menor produção de mel e produtos relacionados e uma diminuição da polinização vegetal. Com menos atividade polinizadora, também a produção agrícola é afetada.

Sendo uma espécie não indígena, predadora natural das abelhas e outros insetos, a médio prazo, explica a DGAV, podem existir “impactos significativos na biodiversidade, em particular nas espécies de vespas nativas e nas populações de outros insetos”.

Apesar do cenário parecer catastrófico, enquanto as abelhas nacionais não batem as asas para afugentar as vespas, podemos contar com os fatores climáticos.

Segundo a AARL, “embora a região tenha condições ideais para o desenvolvimento da vespa velutina, como temperatura, humidade e zonas de floresta, o nosso calendário florístico está em contra ciclo com o ciclo biológico da vespa. Temos florações de outono/inverno principalmente de eucalipto, que produz muito néctar e pólen, o que permite o desenvolvimento e alimentação dos enxames e alguma produção de mel numa altura em que a vespa reduz população e hiberna”.

Frio e chuva em excesso, tal como o bater das asas, podem ser determinantes nos próximos anos.

Marina Guerra
Jornalista
marina.guerra@regiaodeleiria.pt

Martine Rainho
Jornalista
martine.rainho@regiaodeleiria.pt

(Artigo publicado a 6 de dezembro de 2018, com atualização dos dados referentes ao ano de 2018 e introdução da informação divulgada pelas Câmaras de Marinha Grande e Leiria)

São mais de duas centenas as ocorrências registadas na plataforma SOS Vespa em 2018. Números deverão ser superiores, pois nem todos os casos estão a ser registados no portal. Só no distrito de Leiria 60 dos 197 casos foram sinalizados em outubro e novembro.

Vespa asiática (velutina)

No ano de 2018 foram identificados 197 ninhos no distrito de Leiria e concelho de Ourém. Foram assinalados ainda 19 avistamentos.

Vespa europeia (crabro)

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