Um dos lançamentos da Feira do Livro de Leiria de 2019 é “Etnografia da Alta Estremadura”. É o primeiro volume de uma investigação iniciada pelo atual presidente da Associação Folclórica de Leiria – Alta Estremadura há cerca de um ano. O trabalho tem fascinado e surpreendido Adélio Amaro, que promete continuar a divulgar documentação permitindo aos ranchos trabalhar com outras bases e divulgar melhor como era a vida na região no virar do século XIX para o XX.
A investigação de Adélio Amaro resulta num livro importante para a representação etnográfica na Alta Estremadura. O autor é atualmente presidente da Associação Folclórica da Região de Leiria – Alta Estremadura e do Centro do Património da Estremadura (CEPAE). A par disso, assume a direção editorial da revista Portugal Mag, com sede em Paris, e é diretor executivo do jornal Gazeta Lusófona, na Suíça Foto: Joaquim Dâmaso
Como surgiu a ideia para este livro?
Talvez pela minha função como presidente da Associação Folclórica da Região de Leiria – Alta Estremadura (AFRL-AE). Essa atividade alertou-me para a necessidade de escrever um livro sobre a etnografia da Região da Alta Estremadura, visto não existir. No contacto com os 55 grupos associados fui constatando as necessidades destes em ter documentação sobre a época que representam – fim do século XIX e início do século XX. Como tenho investigado muito sobre a nossa região, em especial o período do século XIX, tentei escrever um livro só com notas bibliográficas sobre a etnografia da Alta Estremadura. Após exaustiva pesquisa constatei que era impossível fazer apenas num volume, até porque registei mais de sete mil referências. Escrevi um primeiro volume tendo como base a obra de alguns autores do século XIX, com destaque para Alberto Pimentel, que escreveu dois volumes sobre a Alta Estremadura, publicados em 1908.
Quanto tempo durou o trabalho?
Não consigo contabilizar o tempo, até porque fui recolhendo muito informação que será publicada nos próximos volumes. Todavia, talvez, todo o processo relativo a este volume terá demorado pouco mais de um ano.
Qual a importância desta publicação para a etnografia da Alta Estremadura?
Tendo como base o autor do prefácio, José Travaços Santos, grande mestre da etnografia, este livro é o primeiro que apresenta exclusivamente o tema da Etnografia da Alta Estremadura. Nesse sentido, é um livro de grande importância para que se possa entender a região em causa, sempre que se pretende saber mais sobre usos, costumes e tradições do povo. No caso concreto dos grupos de folclore, este é o primeiro volume que começa a dar muitas informações com base em documentação da época. Muitas das dificuldades dos grupos de folclore é ter fontes escritas que descrevam o que eles defendem nas suas representações. Com este volume, os grupos podem beber um pouco dessa informação e podem encontrar dicas para outras. Sendo que, como já referi, este é apenas o primeiro volume. Muito mais existe para publicar e por investigar.
Que o surpreendeu mais neste processo?
Foi interessante encontrar documentação que descreve exatamente o que algumas pessoas da etnografia defendem, mas o que mais me surpreendeu foi encontrar outra informação que vem contrariar algumas coisas que “se dizem”. Contudo, a surpresa maior foi encontrar documentação que pode ser útil aos grupos e que os pode ajudar a melhorarem as suas representações.
Que impacto espera que tenha “Etnografia da Alta Estremadura”, não só na comunidade ligada à etnografia como em geral?
Até ao momento, antes da sessão de apresentação, já está a ter um impacto fantástico que me está a surpreender muito. Basta dizer que mais de metade da edição já está vendida e têm surgido muitos outros pedidos. Curioso também é ter vários pedidos para sessões de apresentação em vários concelhos do distrito de Leiria. A verdade é que este primeiro volume está a despertar interesse na comunidade relacionada com a etnografia, mas, também, por curiosos ou investigadores da região. Depois da apresentação em Leiria, estão já agendadas outras em Peniche, Bombarral, Pombal, Ansião, etc.
“Etnografia da Alta Estremadura” tem lançamento marcado para sábado, dia 30 demarço, às 15h30, no Centro de Diálogo Intercultural – Igreja da Misericórdia de Leiria. O livro de Adélio Amaro tem 240 páginas e conta com prefácio de José Travaços dos Santos. Nele, o etnógrafo lembra que ao longo do século XX vários investigadores, historiadores, geógrafos e também etnógrafos se debruçaram “com paixão” no estudo da Alta Estremadura deixando documentos que, hoje, “são essenciais para a identificar e nos proporcionam bases sólidas para, conhecendo as coisas do seu passado multissecular, melhor nos conhecermos a nós, alto-estremenhos dos séculos XX e XXI”, sem esquecer que “a riqueza cultural dos países e do mundo está na diversidade das culturas”. Entre esses investigadores do período entre os finais do século XIX e princípios do século XX está Alberto Pimentel, que publicou “Estremadura Portuguesa” em dois volumes. Foi a partir desta obra que Adélio Amaro “reproduz e comenta, com subtileza, as informações sobre a região naquele que terá sido o último período em que o rosto de cada província nos dava fé de costumes peculiares e das consequentes fronteiras culturais”. O presente livro, nota José Travaços dos Santos, “vem preencher um espaço essencial nos arquivos alto-estremenhos, reforçando a riqueza e a importância dos aspectos distintivos do norte da nossa província natal e, evidentemente, da sua história”, assumindo-se como “mais um valioso meio de consulta, a todos nós mas muito particularmente aos aprendizes de etnógrafos”.