Espécie selvagem tem até seis mil picos e é noturna. Em Portugal é proibida a sua adoção Foto: AP
São animais selvagens e começam por estes dias a fazer uma travessia perigosa. Com o calor, os ouriços europeus, “magros e debilitados, com fome e sede”, estão a abandonar o período de hibernação e a atravessar as estradas, em busca de comida.
Os “instintos de procriação a ditar uma frenética procura por companhia” são outro dos motivos pelo qual se movimentam mais e “arriscam” sair das zonas rurais, explica Clarisse Rodrigues, da associação Amigos Picudos.
Por ser um animal noturno, se se avistar um ouriço durante o dia, é possível que o animal esteja ferido, subnutrido ou não se consiga deslocar. “Deve recolher-se o animal, acondicionar o melhor possível e ligar para uma entidade que possa encaminhar o animal”, diz, acrescentando que a Amigos Picudos atende sempre o telefone “até à meia noite” (911 102 676, com sede no Porto) para prestar informações, esclarecer dúvidas e salvaguardar o bem estar do animal.
No período noturno, a atividade dos ouriços é mais frequente e, por isso, se for avistado na estrada, o melhor a fazer é ajudá-lo a atravessar, colocando-o dentro da zona de vegetação, recomenda.
Presente em todo o território nacional, a população de ouriços europeus está em queda e tende a concentrar-se em zonas urbanas. “É cada vez mais comum avistarem-se ouriços europeus a ‘petiscar’ comida de gato ou comida de cão. Com o seu olfato apurado, estes animais facilmente detetam a comida e tentam entrar nas casas e nos jardins onde haja este tipo de alimento disponível. São bastante inteligentes e têm uma boa memória geográfica, sabem bem que no sítio X à hora Y há certamente alimento e água com fartura”, comportamento que explica o “desaparecimento misterioso” de ração, refere a responsável.
A agricultura mecanizada, pesticidas, herbicidas, incêndios, perseguição humana ilegal ou perda de habitat são outros motivos que levam os pequenos mamíferos insectívoros até à malha urbana, em busca de comida.
Um ouriço europeu tem entre 20 a 28 cm e pode pesar, na idade adulta, até 1.200 gramas. É um animal noturno e pode percorrer até 2 km por noite em busca de alimento.
“A maior parte da sua dieta natural consiste em insetos: escaravelhos/besouros, lagartas e larvas, minhocas, milípedes, caracóis e lesmas. Podem também comer fruta e ovos de pássaros que se encontrem no chão ou até mesmo pequenas aves, mamíferos ou répteis”, explica Clarisse Rodrigues, justificando que “comem de bom grado as pestes que tanto incomodam jardineiros e agricultores”.
Apesar do ar carinhoso e dócil, a espécie com cerca de seis mil picos no dorso, é proibida de ter em cativeiro, ao contrário do Pigmeu Africano e do (raro) Orelhudo, que também passarão a ser proibidos na União Europeia em 2021.
Marina Guerra
Jornalista
marina.guerra@regiaodeleiria.pt
(Artigo publicado a 2 de maio de 2019)