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Dez anos de Entremuralhas. “O nosso festival contribuiu para criar o paradigma de uma Leiria vanguardista”

O festival gótico de Leiria comemora dez anos consciente de ter ajudado a mudar a face (e algumas cabeças) da cidade. Hoje, 29 de agosto, arranca nova edição do Entremuralhas, em modo Extramuralhas – fora do Castelo de Leiria. Carlos Matos, presidente da Fade In, faz o balanço de uma década.

O festival gótico de Leiria comemora dez anos consciente de ter ajudado a mudar a face (e algumas cabeças) da cidade. Hoje, 29 de agosto, arranca nova edição do Entremuralhas, em modo Extramuralhas – fora do Castelo de Leiria – com uma novidade: um concerto no Mosteiro da Batalha. O presidente da Fade In, Carlos Matos, fala sobre o impacto de dez anos de Entremuralhas e do que esperar desta edição do Extramuralhas.

Está a começar a décima edição do Entremuralhas/Extramuralhas. É uma história bonita de contar?
Sim, sem dúvida. É uma história de mudanças e de novos paradigmas. Penso que ao longo destas dez edições ajudámos as pessoas a relacionar-se com o “novo” e com o “diferente” de forma natural. Isso ainda é mais significativo e relevante se tivermos em conta que Leiria tinha, até há pouco anos, o “estigma” de ser uma cidade demasiado conservadora. Acho que o nosso festival contribuiu para criar o paradigma de uma Leiria vanguardista, tolerante, inventiva, estética, arrojada, participativa e com uma saudável margem de irreverência. Mas é também uma história de união e cooperação exemplar, desde o primeiro instante, entre a Fade In – Associação de Acção Cultural e a Câmara Municipal de Leiria. E depois, claro, há a questão pessoal. Valorizamos o património e a arquitectura, sem dúvida, mas somos, sobretudo, um festival de música. E, neste particular, e como melómanos e coleccionadores que somos, tem sido uma história extraordinária, pois é um privilégio muito grande fazer um festival “apenas” com bandas e artistas dos quais somos fãs. E isso também é mais um dos factores distintivos do nosso festival que tem, na sua esmagadora maioria, sempre cartazes repletos de nomes internacionais que, se não for no Entremuralhas/Extramuralhas, não se vêem ao vivo em mais nenhum lugar em Portugal.   

Esperavam o sucesso e toda a projecção que o festival ganhou ao longo dos anos – e logo desde o primeiro ano?
Sabíamos que tínhamos argumentos suficientes para ser um festival de culto ou de nicho. Há quem desvalorize isso porque há quem meça a dimensão das coisas pelos números e não pela importância dos argumentos ou pela qualidade dos intervenientes. Nós não nos regemos pela lógica dos festivais de massas senão nunca faríamos um num castelo muralhado e limitado a 737 pessoas por dia. A projeção e o sucesso que o nosso festival tem desde a sua primeira edição deve-se, sobretudo, ao conjunto de singularidades que o caracterizam. E isso, de facto, enche-nos de orgulho!

O concerto no Mosteiro da Batalha é talvez a principal novidade este ano. Como antecipa esse momento? 
Com o Castelo de Leiria em obras e com a consequente passagem do festival Entremuralhas para Extramuralhas, ficámos órfãos, ainda que circunstancialmente, do local que dava o epíteto de “Festival Gótico” ao nosso evento. O Mosteiro da Batalha, património mundial e exemplo maior da arquitectura gótica na região centro, sendo palco da abertura do festival, volta a legitimar o cognome do evento. O concerto dos italianos Ashram, que decorrerá nas Capelas Imperfeitas, será tão idílico quanto o local que o acolhe, proporcionando momentos muito belos e, certamente, com muitos arrepios à flor da pele. Esta parceria da Fade In com a ireção do Mosteiro, em articulação com as câmaras municipais da Batalha e de Leiria, é mais um exemplo bastante positivo do trabalho que se pode desenvolver em rede.

O que destaca da restante programação musical?
Para além do já referido concerto dos Ashram no Mosteiro da Batalha, cujo acesso é gratuito, destacaria também os quatro concertos que vão acontecer no Teatro José Lúcio da Silva: os gauleses Skáld, que, à semelhança do que aconteceu no ano passado com os dinamarqueses Heilung, vão arrebatar a plateia com os seus trajes vikings e com a sua música de toada etérea e ritualista; os belgas Siglo XX, banda de sonoridade post-punk, formada em 1978, que fará no Extramuralhas o concerto final da sua já longa carreira (o que é uma honra para nós!); os lendários britânicos TestDept com a sua música industrial e reivindicativa, onde não faltam pneus, camartelos, chapas e outras singularidades, e que voltam ao activo depois de um hiato de quase duas décadas; e, claro, os norte-americanos She Wants Revenge, uma das bandas mais influentes da cena alternativa dos últimos quinze anos e cujo concerto está prestes a esgotar… Depois aconselho também os concertos de acesso gratuito no Museu de Leiria e no Jardim Luís de Camões e, claro, também os concertos de encerramento de cada dia, na Stereogun!

2018 foi o primeiro ano em que o festival adoptou o formato Extramuralhas. O que é que essa mudança trouxe ao festival?
Foi uma experiência inesquecível e também enriquecedora. Essa mudança permitiu que milhares de pessoas que nunca tinham ido, pudessem usufruir do festival (sobretudo os concertos de acesso gratuito no Jardim Luís de Camões). Esse facto ajudou a consolidar a ideia, mesmo perante os mais incautos, de que se trata efectivamente de um festival bastante diferente dos habituais, quer pela programação ímpar quer pelas estéticas musicais que contempla. Contudo, ajudou também a desmistificar o evento como sendo apenas para uma certa elite esclarecida e conhecedora. Esta mudança potenciou a ideia de que qualquer um poder ser público do festival. As únicas premissas que se têm que ter são a mente aberta e o respeito pela diferença (embora saibamos, na verdade, que isso não para qualquer um!). 

O que falta à Fade In conseguir fazer no Entremuralhas/Extramuralhas?
Embora já tenhamos trazido muitos dos músicos que mais admiramos e muitas daquelas bandas que mais influências exerceram em nós quando éramos jovens adultos, temos a felicidade de não termos ficado parados no tempo. Sem descurar o passado, interessa-nos muito mais estarmos atentos ao presente. E como o mundo da música tem uma veia criativa infindável e um leque gigante de bandas extraordinárias por descobrir, e sendo nós especialistas nessas descobertas, matéria-prima para fazer o Extramuralhas/Entremuralhas por muitos mais anos não faltará certamente! Por isso, e respondendo à questão directamente, ainda nos falta conseguir fazer muita coisa!

“O nosso festival contribuiu para criar o paradigma de uma Leiria vanguardista, tolerante, inventiva, estética, arrojada, participativa e com uma saudável margem de irreverência”

29 de agosto

17 horas
ASHRAM
Mosteiro da Batalha (entrada livre)

21h30
SKÁLD
Teatro José Lúcio da Silva (30 euros)

00h00
ACTORS
Stereogun (10 euros)

30 de agosto

17 horas
LES FRAGMENTS DE LA NUIT
Museu de Leiria (entrada livre)

20h30
TEST DEPT + SIGLO XX
Teatro José Lúcio da Silva (30 euros)

23h30
HENRIC DE LA COUR
Jardim Luís de Camões (entrada livre)

00h30
LIGHT ASYLUM
Jardim Luís de Camões (entrada livre)

01h30 
THE LUST SYNDICATE
Stereogun (10 euros)

 

 

 

 

31 de agosto

18 horas
META MEAT
Museu de Leiria (entrada livre)

21 horas
SHE WANTS REVENGE
Teatro José Lúcio da Silva (30 euros)

23 horas
BLACK NAIL CABARET
Jardim Luís de Camões (entrada livre)

00h00
WULFBAND
Jardim Luís de Camões (entrada livre)

01h30
TRAITRS
Stereogun (10 euros)

 

 

 

 

 

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