Mais de 500 tocadores de concertina são esperados sábado, 28 de setembro, na 18ª edição do Encontro da Barrenta, uma pequena aldeia situada no coração da Serra de Aire, no concelho de Porto de Mós.
Oriundos de todo o país, mas sobretudo do norte, os tocadores “peregrinam” até à serra para participarem nesta celebração da cultura tradicional e popular, transformando totalmente a aldeia onde, no resto do ano, vivem apenas 39 habitantes.
O cartaz de promoção do Encontro de Tocadores da Barrenta assinala que, em 2019, estarão 400 tocadores presentes, refletindo, por baixo, a expectativa dos organizadores. Muitos mais vão passar pelos dois palcos e pelos espaços da festa neste sábado.
“Posso garantir que foram 560 no ano passado. Este ano, abaixo disso não será. Todos os anos tem crescido”, conta Ricardo Pereira, um dos responsáveis da organização.
Ricardo Pereira lembra-se ainda da primeira edição e do ceticismo com que foi recebido o anúncio de que 40 tocadores iam à Barrenta. “Dizia-se que era impossível, que no país não havia 40 concertinas”.
Mas, logo nesse ano de estreia, em 2001, a curiosidade levou à aldeia “uma avalanche de gente”, que nunca mais parou de crescer.
São esperados milhares de visitantes no tradicional encontro Foto: Centro Cultural da BarrentaEste ano são esperados muitos milhares de visitantes e mais de meio milhar de músicos, além dos cantadores ao desafio, que surpreendem nas ruas. Para ajudar a que tudo corra bem, há 100 voluntários mobilizados.
“O encontro surgiu da necessidade de criar algo que desse visibilidade à aldeia”, afirma Ricardo Pereira. A aposta foi ganha: por um lado, onde quer que se fale de concertinas em Portugal, o nome da Barrenta vem à baila. Por outro, milhares de pessoas – “quatro mil, cinco mil” – têm a aldeia como destino uma vez por ano. “As pessoas vêm com gosto à festa”, sublinha.
Sem par no país, o Encontro de Tocadores combina música, paisagem e gastronomia. “Não há nenhum [encontro] igual. Há as romarias do Minho, mas aqui é mesmo, e só, um encontro de concertinas. Lá não. Não nos queremos por num patamar acima de ninguém, mas é o que é. Não dá para negar”.
O sucesso não se restringe à fama e ao dia de festa. Três anos após o lançamento do Encontro de Tocadores da Barrenta, nasceu uma escola, que prospera até hoje.
“Fomos evoluindo e depois criámos um grupo que já está a atuar”, diz o organizador, que é também músico e professor. No Grupo de Concertinas da Barrenta estão atualmente 16 elementos – “dez abaixo dos 35 anos” – e a escola da aldeia tem 60 inscritos. A par disso, há uma extensão na Gracieira, em Óbidos, onde Ricardo ensina outros 30 alunos.
À conta dos ensaios e das aulas, há um intenso movimento semanal na aldeia que não existia antes. “Temos cerca de 70 pessoas que vêm aqui de vários pontos da região”.
Desde 2018 foram instalados dois palcos para agilizar a festa e permitir a participação de mais tocadores Foto: Centro Cultural da BarrentaComo muitas aldeias do país, a Barrenta “estava completamente esquecida”: “Com os tocadores, conseguiu ganhar visibilidade e, com a ajuda de instituições, como a junta e a câmara, há condições para que quem venha de fora se fixe”, acrescenta.
Ricardo Pereira lamenta, contudo, as restrições do Plano Diretor Municipal, que “impedem a construção e a fixação de famílias”. Mas lembra que, mesmo assim, nos últimos tempos duas já se mudaram para lá, “à procura da tranquilidade e de qualidade de vida”.
Hoje, a aldeia tem seis crianças com menos de dez anos, o que não acontecia há muito. “É uma aldeia pequena, mas tem condições e está próxima de tudo”. E uma vez por ano ganha uma vida especial. Em 2019 é já neste dia 28 de setembro.