Manuel da Silva Gomes quase sempre se emocionava quando falava da sua Olavarría, cidade argentina para a qual emigrou em 1953. Natural da Boa Vista, foi um dos responsáveis pela Fundação da Sociedade Portuguesa de Olavarría, há 53 anos, e pela geminação do município de Leiria com aquela localidade da província de Buenos Aires, em finais de 1991.
O seu coração, que batia pelas duas cidades, parou na madrugada desta segunda-feira, 27 de janeiro. Tinha 84 anos. A última homenagem está a decorrer esta terça-feira, com uma cerimónia religiosa na capela de Pafarrão, em Torres Novas, de onde era natural a sua mulher, e um cortejo fúnebre até ao crematório de Leiria, onde o corpo será cremado ao meio-dia.
A comunidade portuguesa de Olavarría é constituída na sua totalidade por pessoas do concelho de Leiria, em particular de Santa Eufémia e Boa Vista. Manuel Gomes não pertence à geração dos primeiros emigrantes, mas está entre aqueles que mais pugnaram pelo estreitar de relações entre as duas cidades.
Quando chegou ao outro lado do Atlântico, começou por trabalhar na indústria cimenteira. Após quatro anos, abraçou juntamente com um sócio e respetivas mulheres, o negócio do hotel e bar “Los dos Hermanos” que já pertencia a portugueses do concelho de Leiria e que ainda se mantém propriedade da família de Manuel Gomes.
Ao REGIÃO DE LEIRIA, a presidente da Sociedade Portuguesa de Olavarría, Silvia Pereyra lamentou a morte do fundador e sublinhou o papel relevante que teve no processo de aproximação entre as suas duas pátrias. “Olavarría e Leiria estão agora irmanadas graças ao sonho do seu impulsionador”.
Também Mário Rodrigues, presidente da União de Freguesias de Santa Eufémia e Boa Vista e da Câmara Luso-Argentina de Comércio e Indústria, se referiu à morte de Manuel Gomes como “uma perda muito grande para a comunidade portuguesa que está naquela cidade e que é 100% de Leiria”. “Ele pugnou sempre por levar o nome de Leiria para Olavarría e quando veio trouxe Olavarría para cá”, acrescentou.
Num artigo publicado no REGIÃO DE LEIRIA, em maio de 2017, sobre aquela comunidade portuguesa, Mário Rodrigues, que nasceu na Argentina, explicava que os emigrantes nesse país “são diferentes de todos os outros”, não encaixam no “estereótipo do emigrante português”. Porquê? “As pessoas quando iam para a Argentina despediam-se como se fossem morrer. Sabiam ou desconfiavam que era para sempre”.
Mesmo para o autarca, que tem dupla nacionalidade, “é muito difícil exprimir o que se sente quando se está lá com esta gente”. É que, por cá, este apego à região e às suas tradições não tem comparação.
Em conversa com Manuel Gomes era difícil não perceber essa comoção.
Patrícia Duarte
Jornalista
patricia.duarte@regiaodeleiria.pt
Em 1966, um grupo de homens, entre eles Manuel Gomes, fundou a Sociedade Portuguesa de Olavarría, para manter vivas a cultura e a língua portuguesas
Manuel Gomes ao lado do ciclista Carlos Vieira que, em 2016, fez a ligação entre Leiria e Olavarría