Onze dos 13 arguidos suspeitos de pertencerem a um grupo que terá furtado pelo menos 87 multibancos ficaram ontem em silêncio, no início do julgamento no Tribunal de Coimbra.
Aqueles que são considerados os principais arguidos – três acusados de terem orquestrado o esquema para o assalto a caixas multibanco por todo o país e outros dois que acabaram por se juntar ao grupo (todos em prisão preventiva) – decidiram ficar em silêncio no início do julgamento, assim como outros seis acusados pelo Ministério Público de diferentes graus de participação no grupo.
De acordo com a acusação a que a agência Lusa teve acesso, o grupo é acusado de ter furtado mais de dois milhões de euros em ataques a pelo menos 87 caixas multibanco de norte a sul do país – 20 dos quais no distrito de Leiria – com os crimes a terem decorrido entre setembro de 2016 e dezembro de 2017, quando três dos principais suspeitos foram intercetados pela PJ após o regresso de mais um assalto.
No início do julgamento, apenas falaram a mãe de um dos principais arguidos e a namorada de outro suspeito, que são acusadas de branqueamento de capitais.
A mãe de um dos arguidos negou a acusação do Ministério Público de branqueamento de capitais e detenção de arma proibida (um bastão de aço).
Respondendo ao presidente do coletivo de juízes, a arguida afirmou que apenas registou um carro Volkswagen que o filho usava em seu nome porque o seguro da viatura ficaria mais barato, desconhecendo que este estivesse envolvido em qualquer tipo de crime.
“Para mim, foi um choque”, contou aos juízes, salientando ainda que a arma encontrada na sua casa, aquando das buscas da PJ, estava num local onde o seu filho guardava as suas coisas.
Apesar de o arguido aparecer em sua casa com diferentes carros, a mãe sublinhou que o filho trabalhava numa garagem e comprava e vendia carros, achando por isso “normal” vê-lo com diferentes viaturas.
Também a namorada de outro dos principais arguidos, apenas acusada de branqueamento de capitais, explicou que registou um carro BMW em seu nome, a pedido do irmão do seu companheiro, que o tinha trazido da Alemanha, desconhecendo que o seu namorado estivesse envolvido em qualquer tipo de crimes.
O julgamento deste processo, com furtos em distritos como Lisboa, Leiria, Évora ou Porto, decorre em Coimbra por ter sido neste distrito que terá acontecido o crime de maior gravidade, um assalto a uma caixa multibanco em Vila Nova de Poiares, em que os arguidos terão ameaçado dois funcionários e um cliente de um posto de abastecimento, com recurso a armas de fogo.
De acordo com a acusação, a que a agência Lusa teve acesso, o grupo recorria a explosões para assaltar os terminais de multibanco, em operações em que cada um dos elementos “obedecia a regras rígidas aceites por todos”.
Antes dos furtos, os membros “selecionavam criteriosamente as caixas multibanco”, procurando perceber a marca e modelo do terminal, através de consultas de movimento de cartões de débito, tendo preferência pelas caixas de uma versão da marca Baussa, mais “antiga e ultrapassada e com menos mecanismos de segurança”, refere o Ministério Público (MP).
Para o assalto, o grupo recorria a carros previamente furtados e usava chapas de matrículas também roubadas e correspondentes a outros veículos.
Era habitual, no local do furto, danificarem as câmaras de vídeo de segurança, levando também consigo rádios portáteis emissores/recetores e várias peças de roupa para trocarem após a prática dos crimes.
Segundo a acusação, para o assalto, além do material necessário para o furto, o grupo ia munido de armas de fogo, como revólveres e espingardas AK-47, e extintores que podiam aspergir contra as viaturas policiais em caso de perseguição.
Os três principais membros são acusados de vários crimes de furto qualificado, posse de arma proibida, falsificação de documento, explosão, recetação e branqueamento de capitais, sendo que, dos 13 arguidos, cinco estão presos preventivamente.
Lusa