“Para mim, enquanto líder, tem muita importância o lado humano dos jogadores. A minha liderança é muito emocional, se tiver que chorar com os meus jogadores, choro, se tiver que rir, rio. Gosto muito de liderar com o coração, não sou capaz de liderar de outra forma. Tem dado certo e vou continuar o caminho assim”.
No final da intervenção, Luís Castro resumia desta forma o seu estilo de liderança.
Convidado pela Cefamol a dar uma aula sobre gestão de talento, o atual treinador do Shakhtar Donetsk, na Ucrânia, esteve no Hotel Mar e Sol, em São Pedro de Moel, a 16 de janeiro, e durante cerca de uma hora descreveu aos profissionais da indústria de moldes como lidera, motiva e desenvolve os seus jogadores.
O técnico, com ligações a Vieira de Leiria, onde cresceu, e à União Desportiva de Leiria, onde foi jogador, conversou sobre a sua experiência de vida e apresentou sete princípios que segue na sua carreira.
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A primeira lição que veio do mister Luís Castro é que a liderança é inata e não se constrói à força nem com artificialidades. “Acredito em líderes naturais”, referiu, admitindo ter sentido desde muito cedo essa predisposição. Enquanto jogador, carreira que deixou aos 35 anos, foi muitas vezes capitão de equipa. Quando “de forma natural” passou a treinador, instalou-se nele “uma vontade enorme de liderar todos os dias, comandar, planear, traçar objetivos e de entusiasmar os jogadores com aquilo que lhes propunha”.
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“Entusiasmar” não é, neste quadro, uma palavra menor. “É algo que nós líderes temos de fazer”, referiu e esta foi a segunda lição. “As nossas proposta têm de ser propostas que satisfaçam os jogadores. Os meus jogadores se estiverem tristes em treino, vão fazer jogos tristes. Quando a cara não ri, os pés não riem e o jogo sai mal”.
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A terceira lição que deixou foi o contexto. No entender de Luís Castro, é aos líderes que compete criá-lo. “Posso apresentar uma proposta de treino aos meus jogadores, mas se não tiver o contexto claro dentro da equipa para essa proposta de exercício se desenvolver, o exercício não vai sair. Na vossa vida deverá ser igual”, apontou.
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No recrutamento de talento, o treinador deixou a sua quarta lição. “Há uma grande confusão naquilo que é o talento”, advertiu. Na sua opinião, “são as capacidades que distinguem os jogadores e, por isso, alguns valem 60 milhões, outros 120 milhões e outros um milhão”. No entanto, “é preciso não só recrutar talento, mas também haver gente que desenvolva esse talento”. “Sempre num contexto coletivo”, salientou. Sem isso, não o jogador não será rentabilizado nem colocado no mercado com um valor superior àquele com que foi adquirido.
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Outro princípio básico identificado por Luís Castro na sua liderança é o “respeito mútuo”. Foi a quinta lição que apresentou na sessão promovida pela Cefamol. “Gosto de ter uma relação boa com os meus jogadores. Perturba-me, enquanto líder, quando às vezes tenho jogadores influentes e não tenho uma boa relação com eles”. Partilhou que o primeiro gesto que tem, quando inicia o seu dia de trabalho, é cumprimentar todos os jogadores e olhá-los nos olhos. Esta “boa relação”, de acordo com a sua experiência, constrói-se com base no “respeito mútuo” e na consciência de que lidera “homens com coração”. Daí que goste de ter conhecimento dos problemas familiares dos seus jogadores para, em conjunto com a administração, tentar solucioná-los e com isso aumentar o rendimento dos seus atletas.
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Outra das chaves para o bom desempenho de uma equipa é o conhecimento da linguagem do líder, dos objetivos que traçou e das regras de funcionamento do coletivo. E transpôs o que tem sido a sua experiência e conhecimento para o mundo empresarial, para dar a sexta lição. “É o empregado saber claramente que a empresa está com dificuldade financeira ou que está com conforto financeiro, que está com bom ou mau nível de vendas, saber quais os objetivos”. Tudo deve ser transmitido com clareza, conforme referiu. “Na minha liderança têm de estar conscientes daquilo que é o nosso caminho e para onde queremos ir. Todos são conhecedores das regras: sabem que na transição de exercícios não quero que toquem nas bolas, que não utilizem telemóvel à mesa durante a refeições e que nas deslocações de avião, que na ida não pode ir ninguém, mas que para cá pode vir a família”.
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Por último, Luís Castro sublinhou que é ao líder que compete assumir tudo. Foi a sétima lição. Mesmo que a responsabilidade não lhe possa ser diretamente imputada, e haja outras opções – da administração ou do departamento de saúde, por exemplo – que tenham condicionado o resultado, é ao líder que compete dar a cara. No seu caso, conta que dorme muito bem quando perde e muito mal quando ganha. “Quando perco refugio-me no sono. Sinto-me muito culpado, assumo todas as dores da derrota, assumo tudo aquilo que se passa dentro da nossa equipa. É um dos deveres do líder”, reforçou.
Patrícia Duarte
Jornalista
patricia.duarte@regiaodeleiria.pt
(Artigo publicado na revista Moldes e Plásticos 2020)