Isabel Sousa foi criada em Sobral de Ourém, concelho de Ourém – nasceu em França, mas só lá esteve um mês -, e até terminar o ensino secundário estudou em Fátima, onde a mãe tem uma loja de artigos religiosos. Tem 32 anos. Em 2014 emigrou para Itália, para a região de Le Marche, onde agora vive o receio de que o Coronavírus (Covid-19) continue a propagar-se pelo país.
Qual é a situação na região onde vive?
Na quarta-feira, dia 26, surgiram os três primeiros casos de pessoas infetadas. As medidas que o presidente da região tomou são um bocadinho controversas, porque mandou fechar as escolas, bares a partir das 18 horas, e cancelar festas, concertos, cinema, desfiles de Carnaval. A escola foi suspensa até quarta-feira, dia 4, como medida para evitar a propagação do Coronavírus.
Foi um a decisão um pouco controversa, porque foi um bocadinho contra aquilo que o primeiro-ministro, Giuseppe Conte, tinha dito. Não sendo uma região em alerta vermelho ou amarelo, não era preciso tomar todas as medidas. Mas o presidente da região manteve a decisão.
Não vejo as pessoas muito satisfeitas com a forma como o governo reagiu e está a reagir. Não as vejo muito contentes com a forma como está a gerir tudo. Muita gente também critica o presidente da nossa região.
As pessoas vão mais aos supermercados também na sua região?
As imagens dos supermercados com prateleiras vazias referem-se a uma situação que acontece maioritariamente no norte de Itália. Aqui onde estamos veem-se mais pessoas no supermercado e existe mais confusão porque querem comprar muitas coisas para terem em casa. As pessoas querem precaver-se. Eu penso que é um comportamento exagerado, porque na nossa região ainda não existem casos que justifiquem haver medo como no norte.
E há produtos esgotados?
O que aconteceu logo foi que esgotaram as máscaras e todo o tipo de desinfetantes. Não se encontram em nenhuma farmácia ou supermercado, em nenhum lugar. E já há pessoas a aproveitarem-se desta situação na Internet: 20/30 máscaras, que custavam um euro, agora estão a 30/40 euros e o gel desinfetante, que custava à volta de 3/3,50 euros, está a preços exorbitantes, 100/150 euros.
A vossa rotina mudou muito?
A rotina das pessoas foi mudada. Na nossa região porque, ao fecharem as escolas, os pais que trabalham ficaram sem sabem onde deixar as crianças. Sente-se algum medo, com os jornais sempre a falar disto, o telejornal só fala disto 24/24 horas, o que cria um pouco de pânico. Mas vou à rua, ao supermercado, vou ao parque com o meu filho. No parque não há tantas crianças como antes e veem-se menos pessoas nas lojas, tirando os supermercados.
Vem em breve a Portugal?
O que mais me preocupa agora é ter um voo marcado na quarta-feira, dia 4, para Portugal, com o meu filho. Vou apanhar o avião a Bolonha, mas o que me preocupa não são os casos registados nesta região, mas sim o aeroporto. E, sobretudo, não saber como será à chegada Portugal. Não sei como fazem com os voos chegados de Itália, mesmo que os passageiros não sejam provenientes de uma zona vermelha ou amarela. Tenho um bocado de medo, pelo meu filho, mesmo sabendo que as crianças estão menos sujeitas à doença.
Como estão as autoridades a encarar o problema?
A Itália está a encarar este problema um bocadinho atabalhoadamente. No início não sabia para onde havia de virar-se. Não sabia o que havia de fazer. Não sabem como começou o surto e alastrou tanto aqui em Itália, principalmente no norte. Nesta região as pessoas estão realmente de quarentena e as lojas fechadas, há cidades fechadas e ninguém pode entrar ou sair de casa. Ali sim, mudou tudo para eles.
Carlos Ferreira
Jornalista
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