“Que fique claro: não há recuo, há sentido de responsabilidade; não há cancelamento do projeto, há planeamento; não há polémica ou dissidências dentro da Câmara e dos eleitos do PS, entre o atual e o anterior presidente, há preocupações de sustentabilidade e gestão rigorosa dos dinheiros públicos, como é apanágio deste executivo da Câmara desde há 10 anos”.
A declaração de Gonçalo Lopes, na última terça-feira, em reunião de executivo, apanhou de surpresa os vereadores do PSD e os leirienses.
A decisão da autarquia em avançar com um estudo económico para avaliar o impacto da construção e os custos de funcionamento do Centro de Atividades Municipal (CAM), também denominado pavilhão multiusos, marca uma nova fase do projeto, há muito desejado na cidade, sobretudo pela possibilidade de trazer novamente para Leiria um recinto desportivo coberto.
Recorde-se que a proposta vencedora do concurso de ideias para o multiusos foi conhecida em fevereiro de 2018 e tinha um custo de construção estimado em 12 milhões de euros. Contudo, o valor já foi ultrapassado em 50%, situando-se atualmente nos 18 milhões de euros, revelou Gonçalo Lopes, em explicações aos vereadores do PSD.
Já diz o provérbio popular “cautelas e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém” e certo é que o pavilhão será para avançar, disso o autarca não tem dúvidas, mas justifica a medida com “preocupações de sustentabilidade e gestão rigorosa dos dinheiros públicos”.
O assunto chega à ordem do dia uma semana depois do Jornal de Leiria ter publicado um artigo a indicar que 57% dos leirienses estão contra a construção do pavilhão. Os números, afirmou Gonçalo Lopes aos jornalistas, vêm justificar que este projeto “exige planeamento” e “tempo” para tomar “decisões acertadas”, sem causar impacto nos cofres da autarquia.
Estádio é exemplo
“Temos a obrigação de ser responsáveis na análise de um dossiê relativo a uma infraestrutura que se pretende seja uma âncora e não um entrave ao desenvolvimento de Leiria”, disse na sua intervenção, recordando o caso do estádio de Leiria, que teve um custo superior a 100 milhões de euros e que “fica marcado por um desvio orçamental monumental face à estimativa inicial de custo de 19,5 milhões de euros”.
“É imperativo, por um princípio de boa gestão e cautela, que não se repitam os erros do passado que comprometeram durante muitos anos o desenvolvimento do concelho”.
Gonçalo Lopes, presidente da Câmara de Leiria
Apesar de afirmar que “existe dinheiro na Câmara disponível para esta obra e outras”, o objetivo do estudo, obrigatório por lei, para posterior submissão do processo ao Tribunal de Contas, é avaliar, entre outras coisas, se o equipamento pode ficar mais barato, se existe a possibilidade de financiamento comunitário ou envolver privados na construção e exploração do CAM.
PSD acusa PS de falácias
“O que nos vem dizer é da maior gravidade. Vem dizer que não há recuo, há que pensar, queremos fazer mas queremos mais rigor, chega ao ponto de pensar em fazer mais barato. Isto são falácias para a população de Leiria. Se se fez um concurso que custou 300 e tal mil euros, não é agora que isto [estudo] tem que ser posto. Devia ter sido feito na altura”, argumentou Fernando Costa, acusando o executivo de “adiar e enganar” os leirienses.
Para o vereador social-democrata, a autarquia tem condições para suportar a obra através dos saldos do Orçamento Municipal e considera o discurso do presidente da autarquia “inconsequente e pouco fundamentado”. “Não estou triste com a tomada de decisão, não estou é satisfeito com a irresponsabilidade e com o dinheiro que já se gastou”, concluiu.