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Covid-19

Covid-19: Estudo estima que por cada 100 casos em Itália, Portugal terá sete e peritos apontam 80% afetados de forma ligeira

Como vai progredir o surto? Qual a percentagem de casos graves? Especialistas deixam pistas.

Um estudo da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) estima que, em média, por cada 100 casos de Covid-19 em Itália, o país mais afetado na Europa, Portugal terá sete casos, apontando para um cenário grave em território nacional.

O estudo teve como base modelos matemáticos, que analisou dados dos outros países, que permitem prever o que se irá passar em Portugal, disse à agência Lusa a investigadora e diretora da ENSP, Carla Nunes.

“Esta previsão é muito fiável a um curto espaço de tempo, cerca de três a cinco dias. Passado esse tempo é muito difícil prever com exatidão”, afirmou a especialista em Epidemiologia e Estatística.

“Atualmente, a análise desses modelos diz-nos que todas as curvas, na fase em que nos encontramos e independentemente do país analisado, são exponenciais (ou similares), ou seja, têm uma evolução crescente acentuada. A curva portuguesa segue o mesmo trajeto, à sua escala, comparando com os períodos análogos dos outros países”, sublinhou.

“Analisando, por exemplo, o 17.º dia de todas as curvas sabemos que, por cada 100 casos em Itália, esperamos sete em Portugal, por cada 100 no Reino Unido estimamos 130 e por cada 100 em Espanha esperamos 30 novos casos em Portugal”, precisou Carla Nunes.

Carla Nunes esclareceu que estes países foram escolhidos por serem os que matematicamente e culturalmente mais se adaptam à explicação da curva portuguesa, em diferentes escalas.

Segundo a investigadora, Portugal está a seguir as curvas dos outros países em escalas diferentes. “Nós temos um comportamento que nos permite ver, usando as outras curvas, o que vai acontecer nos próximos dias se, obviamente, nos mantivéssemos no mesmo caminho que eles estão a seguir”, referiu.

“Nós estamos no 17.º dia de curva, mas eles atualmente já estão no trigésimo, no quinquagésimo dia, portanto, eu consigo prever quantos casos novos” o país vai ter, porque “estes modelos matemáticos têm uma capacidade de 95% ou mais, o que é brutal”.

“Isso é o que me assusta. Nós estamos no mesmo caminho que eles estão”, mas Portugal pode afastar-se destas “previsões assustadoras”: “A evidência diz-nos que baixando a taxa de contacto, baixamos a taxa de transmissão”.

“Comparativamente aos outros países, Portugal tomou medidas de promoção do isolamento social mais cedo e foram aparentemente bem adotadas pela população portuguesa, segundo os órgãos da comunicação social”, observou a diretora da ENSP.

Portugal introduziu uma nova medida na passada sexta-feira, a interrupção das escolas, que efetivamente começou na segunda-feira, mas serãonecessários 14 dias, o período máximo de transmissão do vírus, para perceber o impacto da medida.

Dada a “história do vírus”, ainda não há tempo para saber se “a medida foi eficaz ou não”, salientou.

Carla Nunes lembrou que esta medida já tinha sido tomada noutros países e não se conseguiu ainda observar o seu impacto. “Mesmo nos outros países como Itália e Espanha, que já estão com medidas bastante mais severas”, ainda não se verificou “um efetivo ou indiscutível abrandamento”, notou.

“A comparação de medidas/políticas entre países é sempre difícil (culturas, capacidade de resposta dos serviços de saúde, adesão da população às medidas, entre outras). Resta-nos, por isso, fazer a nossa parte: aguardar em casa e seguir as indicações de higienização”, disse, frisando que “este é um problema complexo e multidisciplinar”.

A investigadora avançou à Lusa que está a ser criado o barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública que já está a seguir esta situação muito próximo, abarcando diversas perspetivas: sociais, económicas, perceções, epidemiologia e acesso a serviços, entre outras.

Maioria afetada de forma ligeira mas 5% preocupam

Já na última quarta-feira, especialistas em pneumologia e infecciologia explicaram em Lisboa que o novo coronavírus, que provoca a doença Covid-19, afetará “de forma ligeira ou moderada” 80% das pessoas infetadas mas que há 5% preocupantes e mobilizadores de recursos.

Três especialistas discutiram na Ordem dos Médicos (transmissão por ‘streaming’) a situação decorrente da pandemia Covid-19. Falaram Filipe Froes, pneumologista e investigador, António Diniz, infeciologista e coordenador da unidade de imunodeficiência do Centro Hospitalar Lisboa Norte, e Francisco Antunes, professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, e especialista em doenças infecciosas. Os dois primeiros fazem parte de uma equipa que está a preparar novas normas para o combate à doença e que devem ser divulgadas nos próximos dias.

António Diniz falou do que se sabe da doença e de como a evitar: evitando contactos e lavando as mãos com frequência, por exemplo.

Os três defenderam que é fundamental impedir que a doença alastre sem controlo, uma forma de os estabelecimentos de saúde terem tempo para conseguir apoiar todos os doentes.

António Diniz falou do que se sabe da doença e de como a evitar (evitando contactos e lavando as mãos com frequência, por exemplo) e disse não acreditar que surja uma vacina para toda a população antes do final do ano.

E Filipe Froes lembrou que o aparecimento de vírus é recorrente, ainda que as pessoas nunca estejam preparadas nem à espera. “Era possível estarmos melhor preparados” e menos dependentes de medicamentos feitos fora do espaço europeu, lamentou.

Lembrando que há um século a gripe espanhola matou 50 milhões de pessoas, o especialista disse que com a pandemia Covid-19 a Europa “não reagiu bem” e “não soube lidar com a incerteza”.

“Quanto aos tais 5% críticos seguramente vamos fazer todos os possíveis para acomodar todas as pessoas” e para isso “retardar o avanço da doença é fundamental”.

Perante a atual situação de contaminação, no entender de António Diniz, é importante tomar medidas para a evitar ao máximo, para permitir que o Serviço Nacional de Saúde não fique sem capacidade.

Sendo certo que 80% dos infetados não serão preocupantes, há 15% que terão de ser internados e haverá 5% que vão precisar de cuidados intensivos e é onde estará o “grosso do trabalho”, disse Filipe Froes.

E António Diniz acrescentou: “Quanto aos tais 5% críticos seguramente vamos fazer todos os possíveis para acomodar todas as pessoas” e para isso “retardar o avanço da doença é fundamental”.

Francisco Antunes lembrou também que existem sete espécies de coronavírus e que três delas são recentes e que o que está a acontecer com a Covid-19 “era previsível que acontecesse” ainda que ninguém estivesse à espera que tivesse a dimensão que tem.

E como reagiu a Europa? Primeiro ficou chocada com as medidas das autoridades chinesas e depois horrorizada com a situação (muitos mortos e infetados) em Itália, respondeu, acrescentando que Portugal tomou algumas medidas de forma tardia, aliás como todos os países europeus.

O debate foi organizado pela FDC Consulting, uma empresa de comunicação ligada ao setor da saúde, e juntou também as opiniões dos bastonários das ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos, Miguel Guimarães e Ana Paula Martins, respetivamente.

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